No início dos anos 1970 ingressei no primeiro curso de biologia diurno criado pela Universidade Souza Marques. Era um curso formado por jovens professores, alguns do Instituto Oswaldo Cruz, como Orlando Guerra (1939-1988), e outros da Universidade Santa Úrsula, como José Andreata. Algumas aulas de botânica eram ministradas no Jardim Botânico pela pesquisadora Odete Pereira Travassos (1923-1991), formada em história natural, ela era filha do helmintologista Lauro Travassos (1890-1970). Na faculdade, fiquei apaixonada pelo estudo dos invertebrados e ingressei como bolsista de iniciação científica no Instituto Oswaldo Cruz para trabalhar com moluscos de água doce, no laboratório do também médico e pesquisador Rostan Soares (1914-1996).
Trabalhar com coleções científicas me encantava e passei então a organizar a coleção de moluscos do entomólogo Hugo de Souza Lopes (1909-1991), um dos pesquisadores de Manguinhos que teve seu direito político cassado pela ditadura militar, no episódio que ficou conhecido como Massacre de Maguinhos. Com o desmonte dos laboratórios, essa coleção ficou sob a guarda do prof. Orlando Guerra, sendo posteriormente transferida para o Museu Nacional.
A Fundação Oswaldo Cruz passava por uma restruturação e o foco principal era a área da pesquisa biomédica. Como meu interesse estava ligado às coleções em geral, ganhei uma bolsa de aperfeiçoamento do CNPq para trabalhar no Museu Nacional com coleções de molusco. Estava formada e logo ingressei no mestrado em zoologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro, desenvolvendo dissertação sobre micromoluscos marinhos no Museu Nacional – tive a satisfação de ter o Dr. Hugo de Souza Lopes como membro titular da minha banca examinadora.
Trabalhar com coleções me despertou o interesse pelos naturalistas, coletores, viagens científicas, trocas intelectuais e a formação dos museus que abrigavam essas coleções.
Em meados dos anos de 1980, morando na Inglaterra, ingressei no doutorado com a proposta de trabalhar com viajantes ingleses no Brasil no século 19. Fui aceita no departamento de História e Filosofia da Universidade de Durham e minha tese foi sobre uma expedição inglesa à Amazônia em 1873, com foco na pesquisa de campo, nas coleções e na relação com o naturalista brasileiro João Barbosa Rodrigues. Começava aí a minha inserção na área da história das ciências.
Com ligação muito estreita à minha área de formação, biologia e coleções científicas, a história da ciência passou a ser definitivamente meu campo de interesse. Com a tese defendida, já de volta ao Brasil, voltei à instituição onde havia começado minha vida de pesquisadora, a Fundação Oswaldo Cruz.
A Fiocruz agora abrigava uma nova unidade, que havia sido criada quando me encontrava no exterior e era dedicada às áreas da história da ciência e da saúde e do patrimônio científico e cultural, e iniciava a construção de um museu interativo de história e ciências, uma inovação na época.
Fui então convidada para ingressar na equipe do Museu da Vida para colaborar na elaboração específica de um dos espaços em minha área de conhecimento. Ingressei como bolsista de pós-doutorado com projeto sobre um naturalista viajante, o austríaco Johann Natterer, e a coleção de helmintos formada por ele quando da sua estadia no Brasil, no início do século 19.
Um ano após meu ingresso na Fiocruz, prestei concurso e passei a fazer parte do quadro institucional. Após a inauguração do Museu da Vida, fui transferida para o departamento de pesquisa da Casa de Oswaldo Cruz, onde dei continuidade aos estudos que já vinha desenvolvendo e ampliando meu foco de interesse.
Depois de 25 anos, a biologia e a história da formação das coleções científicas continuam perpassando todos os meus interesses de pesquisa e de formação dos meus alunos de pós-graduação.
O envolvimento cada vez mais evidente das relações interespecíficas no surgimento de novas patologias ou retorno de antigas confere nova projeção às coleções biológicas de animais e outros organismos relacionados a doenças humanas.
Estudar a história das formações científicas, coletores e pesquisadores, as relações científicas envolvidas e a circulação de conhecimento é cada vez mais urgente em decorrência das modificações dos ecossistemas que alteram a biodiversidade, o equilíbrio das relações ecológicas e, consequentemente, o controle de potenciais patógenos e vetores.
Magali Romero Sá
Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz
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