Estratégia pedagógica promove o compartilhamento de aprendizado entre alunos e pode ser utilizada em qualquer nível escolar.

 

O compartilhamento é palavra-chave de novas formas de trabalho, consumo e socialização. Por que não levar essa tendência também para a sala de aula? Pois é assim que funciona o rodízio de saberes, uma proposta de aprendizagem ativa baseada em uma premissa simples, mas eficaz: a leitura coletiva e colaborativa dos textos por grupos de alunos, que, depois de discutir internamente o conteúdo, passam a comunicar oralmente o que aprenderam aos outros círculos de estudantes da turma.

E o que esse tipo de experiência, que usa o texto como unidade de aprendizagem, pode possibilitar? Maior integração entre os alunos, que compartilham o que leem, contando e ouvindo uns aos outros; a prática de diferentes linguagens (científica ou literária), ao trabalhar a oralidade; um ambiente menos tenso do que o de seminários para os estudantes apresentarem trabalhos; e o desenvolvimento da competência discursiva, ao propor uma nova forma de comunicar os saberes, entre outros.

 

Como organizar a dinâmica?

Essa didática, que se organiza em cinco etapas, pode ser adaptada às diferentes realidades e diversidades de cada contexto educacional, do ensino fundamental à pós-graduação. Podem ser usados artigos, capítulos de livros, livros didáticos ou paradidáticos, não há restrição. No exemplo de dinâmica a seguir, foi utilizado o livroSexo, Drogas, Rock’N’Roll… & Chocolate, de Suzana Herculano-Houzel.

 

PRIMEIRA ETAPA: divisão em grupos e identificação dos seus membros.

Os alunos são divididos em cinco grupos de oito integrantes, considerando uma turma padrão de 40 estudantes. Cada grupo recebe uma temática e é identificado de acordo com ela. No exemplo do livro Sexo, Drogas, Rock’N’Roll… & Chocolate, o grupo sobre ‘prazeres cotidianos’ é identificado com a letra P, a equipe que trata de sexo ganha a letra S, e assim por diante. Além disso, cada membro do grupo é designado por um número. Dessa forma, cada estudante é identificado por um conjunto de letra e número. No grupo P, por exemplo, os membros vão de P1 a P8. Todos os participantes devem ganhar um crachá de identificação.

Modelo de organização dos grupos

SEGUNDA ETAPA: leitura individual (duração 15 minutos).

Já organizados em grupos de oito membros, cada estudante recebe um ou mais capítulos da sua respectiva temática para ler.

 

TERCEIRA ETAPA: interação intragrupos (duração de 15 minutos).

Em seus grupos, os alunos discutem o que leram com o objetivo de construir um entendimento compartilhado do(s) capítulo(s)de sua temática.

 

QUARTA ETAPA: interação intergrupos – rotação (duração de 60 minutos).

Aqui se inicia um ciclo de rotação. A cada 15 minutos, uma dupla de um grupo vai a outro, a fim de explicar o conteúdo do material lido em seu próprio círculo. Esgotados os primeiros 15 minutos, o toque de um apito ou um sino avisa os alunos que eles devem retornar a seus grupos. Essa etapa se repete sucessivamente, até que todos tenham comunicado o que leram aos grupos, totalizando quatro rotações.

Modelo de organização dos grupos e estudantes identificados por temática para interação intergrupos, quando duplas de estudantes vão a outro grupo contar sobre sua temática. O exemplo ilustra o 1º ciclo de rotação.

QUINTA ETAPA: interação intergrupos – dinâmica inversa (duração 30 minutos).

Os alunos retornam aos seus lugares para mais dois rodízios, de 15 minutos cada, com dinâmica inversa. Essa etapa é necessária porque as duplas que foram a outros grupos compartilhar conteúdo deixaram de ouvir o que foi falado em seus grupos durante aquela rotação. Por exemplo, a dupla P1-P3, ao sair para contar sobre a temática ‘Prazeres cotidianos’, não ouviu sobre a temática ‘Chocolate’. Para que todas as duplas tenham acesso a todos os conteúdos, nas duas últimas rodadas, os que contam permanecem em seus grupos e os que ouvem é que vão em busca do conteúdo que não ouviram, na 5ª e na 6ªrotação (ver figura 3 a e b). Dessa forma, os grupos permanecem sempre com o mesmo número de componentes.

Legenda: Modelo de organização dos grupos e estudantes identificados por temática para interação intergrupos, quando duplas vão a outro grupo contar sobre sua temática. O exemplo ilustra o 5 ºe o 6º ciclos de rotação.

Ao final das seis rotações (quatro na primeira fase de interação dos grupos, e duas na dinâmica inversa), em aproximadamente 1h40min, todos os alunos conheceram todas as temáticas abordadas. Ou seja, todos ‘leram’ o livro inteiro.

 

Como foi testada a estratégia pedagógica?

O rodízio de saberes foi testado com cerca de 200 estudantes de diferentes segmentos e modalidades educacionais, desde o ensino fundamental– anos finais e iniciais – até a pós-graduação, passando pelo ensino médio regular, curso normal – formação de professores e educação de jovens e adultos (EJA) –, em unidades escolares do ensino público. Os livros trabalhados foram Além do que você imagina, de Bruno Tebaldi, na turma de 5º ano do ensino fundamental, e Sexo, Drogas, Rock’N’Roll… & Chocolate, de Suzana Herculano-Houzel, para todos os demais níveis educacionais.

Os resultados do trabalho apontaram que o rodízio de saberes, ainda que precise ser mais testado e estudado, é perfeitamente viável no contexto da educação formal e pode ser aplicado tanto nas salas de aula do ensino básico quanto do superior, respeitando suas características.

 

Qual foi a avaliação dos estudantes?

A validade pedagógica da didática também foi demonstrada na avaliação feita pelos próprios estudantes. A seguir, confira alguns depoimentos.

“Lemos as histórias. Eu pensei que seria chato até porque eu não gosto de português. Mas eu gostei porque nos dividimos em grupo para contar histórias… Nos ensina a ler e a memorizar para contar aos outros.”Estudante de 5º ano do ensino fundamental

“Pessoas explicam parecendo conversa, indo nos grupos, aprendendo. Foi mais simples compreender o que o meu colega leu… Todo mundo interagiu com o trabalho de todo mundo.” Estudante de EJA

“Aprendi vários assuntos que não conhecia. Foi uma experiência única, onde nós aprendemos um pouco de tudo, pois, com apenas algumas horas de pesquisa, podemos aprender vários temas e assuntos diferenciados.” Estudante de curso normal

“A técnica de distribuir temas em grupos diferentes e fazer com que estes sejam agentes disseminadores desses assuntos a outros grupos gerou comprometimento de todos e discussões que possivelmente não ocorreriam nos tradicionais seminários.”Estudante de mestrado e doutorado

Roseday Santos Nascimento
Denise Lannes

Laboratório em Formação,
Instituto de Bioquímica Médica,
Universidade Federal do Rio de Janeiro

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