A estreia do filme Jurassic World – Reino Ameaçado causou bastante expectativa entre os aficionados por dinossauros e outros seres extintos. Também não é para menos: esse novo longa-metragem marca os 25 anos da franquia iniciada em 1993 como Jurassic Park. Eu certamente sou um dos que aguardavam ansiosamente as novidades. Porém, confesso certa decepção ao sair do cinema…
Claro que uma iniciativa como essa tem como objetivo principal divertir o espectador, notadamente formado pelo público infantil e juvenil (apesar do meu convencimento de que boas produções interessariam também aos adultos). Qual é a minha principal restrição? A falta de, digamos, atenção ou ‘carinho’ com algumas questões científicas, que não teriam inviabilizado a trama central ou diminuído o interesse do público-alvo. Muito pelo contrário…
Diferentemente do que aconteceu em Jurassic Park (1993), onde novas descobertas foram apresentadas em grande estilo, fascinando não apenas os que gostam dos dinos, mas também os amantes de um bom filme, a nova película deixou a desejar. Para começar, não houve uma atualização dos enormes avanços científicos obtidos pelos paleontólogos neste último quarto de século. Por exemplo, já sabemos há muito tempo que os velociraptores – ou espécies proximamente relacionadas – tinham estruturas filamentosas (consideradas antecessoras das penas) e não apenas escamas. São dezenas de achados, particularmente da China, que poderiam (e, sinceramente, deveriam) ter sido levados em conta. Já imaginaram o efeito visual de um dinossauro coberto de ‘penas’ avançando nas pessoas?
Também sabemos que os pterossauros (répteis alados) não levantariam presas de 60-80 kg, sobretudo as formas apresentadas no filme, que não deveriam pesar mais de 30 kg. Algumas boas ‘bicadas’ já teriam produzido os efeitos desejados.
Além disso, faltou um personagem representando um paleontólogo ou paleontóloga na trama, um detalhe que tira a graça de ter alguém dando crédito ao espectador da informação apresentada – o que foi majestoso no Jurassic Park. É algo como ter um jogo de futebol sem jogador profissional. O filme ainda abusa dos clichês, como o ‘russo malvado’ querendo comprar dinossauros para usá-los como armas de guerra. Um político de ‘topete amarelo’ talvez fosse mais atual. Não vou nem falar das diversas (e desnecessárias) cenas piegas…
Mas nem tudo está perdido! O filme traz uma novidade legal: pelo menos uma espécie da América do Sul foi (finalmente!) incluída. Trata-se do Carnotaurus, procedente de rochas cretáceas da Argentina. Aliás, seria muito bacana que novas versões do filme (certamente vão existir, a julgar pelo sucesso de bilheteria – a meta de US$ 1 bilhão deve ser alcançada!) incluíssem mais formas maravilhosas sul-americanas, inclusive brasileiras, como os pterossauros! E temos para todos os gostos: desde animais com dentes e aspecto feroz, como o Anhanguera, até formas com expressões mais dóceis, como o pequeno Tapejara. Sem contar com répteis
alados que dispõem de cristas majestosas, como o Tupandactylus e o Thalassodromeus! Certamente traria originalidade às novas tramas.
Outro aspecto que chamou a atenção foi a explicitação, no novo filme, sobre os perigos relativos à questão da manipulação genética. Essa temática sempre esteve presente na série, mas nunca foi apontada de forma tão clara como na última fala do Dr. Ian Malcom (interpretado pelo famoso ‘homem-mosca’ – Jeff Goldblum –, que aparece como matemático em diversos episódios): a do surgimento de uma nova era.
Nesse longa, o foco é a convivência dos dinossauros com o homem, mas o que se encontra em discussão hoje em dia é o enorme potencial da manipulação dos genes e o que isso poderá representar para o futuro da humanidade. Já se fala, inclusive, na ‘desextinção’ (do inglês: de-extinction). Essa expressão curiosa está sendo empregada não para os dinossauros, mas sim para alguns mamíferos extintos, como o mamute. Esse fascinante tema – que, em tese, não está tão longe assim – certamente será abordado por esta coluna no futuro.
Mas agora sugiro que todos os interessados assistam a essa nova versão de Jurassic World. Independentemente das críticas, é um bom entretenimento, apresentando reconstruções fantásticas de algumas das mais fascinantes criaturas que já viveram na face do nosso planeta! Só esse aspecto já vale o ingresso. Divirtam-se!
Alexander W. A. Kellner
Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Academia Brasileira de Ciências
Para acessar este ou outros conteúdos exclusivos por favor faça Login ou Assine a Ciência Hoje.
Publicada na capa da revista Nature, descrição de réptil fóssil de cerca de 230 milhões de anos encontrado no Brasil sugere que os precursores dos dinossauros e pterossauros eram bem mais diversificados do que se supunha
Nesta data especial em que a Ciência Hoje chega à edição n⁰ 400, Alexander Kellner apresenta um breve histórico da criação da coluna Caçadores de fósseis, a mais antiga em atividade na revista, com 184 textos publicados até hoje, alguns reunidos em um livro
Simpósio internacional sobre pterossauros, na cidade do Crato (CE), reuniu alguns dos principais pesquisadores da área, que apresentaram novos estudos e participaram de atividade de campo em depósitos da Chapada do Araripe, mundialmente conhecida pelos seus fósseis
Com base em tomografias e estimativas da massa cerebral de vertebrados fósseis, neurocientista brasileira estabelece que esse dinossauro tinha número de neurônios similar ao de babuínos e sugere que ele era mais habilidoso e vivia mais do que se supunha
Nascido de uma divergência entre uma mineradora que atuava em uma região fossilífera e a comunidade científica, esse centro de pesquisas atrelado à Universidade do Contestado, em Santa Catarina, tem contribuído muito para a divulgação dos fósseis encontrados no estado
Exames mostram que animal de um grupo caracterizado pela presença de ossos pontiagudos em torno do pescoço e nos ombros não era muito ativo e vivia de modo mais solitário, com poucas interações com outros membros de sua espécie
Análise detalhada de esqueletos fósseis associados a acúmulos com escamas de peixes encontrados em rochas jurássicas revela que esse grupo de répteis alados podia expelir voluntariamente pela boca restos de alimentos indesejados
Análise de fóssil brasileiro de 225 milhões de anos revela que o padrão de substituição de dentes considerado exclusivo dos mamíferos surgiu bem antes do que se supunha e sugere uma nova classificação para essa espécie primitiva
Tomografias feitas em fósseis desse grupo e formas aparentadas demonstram que a capacidade de gerar calor e manter a temperatura corporal, tão importante para a adaptação a diferentes ambientes, surgiu há cerca de 233 milhões de anos
Paleontólogos brasileiros de destaque mundial buscam conscientizar pessoas e instituições sobre a necessidade de devolver ao Brasil fósseis relevantes, muitas vezes ‘exportados’ ilegalmente, para contribuir com o desenvolvimento da ciência nacional
Novos estudos mostram que restos encontrados em rochas de 225 milhões de anos no Rio Grande do Sul não pertencem a um réptil alado, como se acreditava, e identificam no material uma segunda espécie, denominada de Maehary bonapartei
Estrutura de cerca de 200 km de diâmetro encontrada na península de Yucatán, no Golfo do México, foi confirmada como a cratera resultante da queda de um asteroide que levou à extinção de 75% das espécies da Terra, incluindo os dinossauros, há 66 milhões de anos
Cookie | Duração | Descrição |
---|---|---|
cookielawinfo-checkbox-analytics | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics". |
cookielawinfo-checkbox-functional | 11 months | The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional". |
cookielawinfo-checkbox-necessary | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary". |
cookielawinfo-checkbox-others | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other. |
cookielawinfo-checkbox-performance | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance". |
viewed_cookie_policy | 11 months | The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data. |