Quais questões a comunidade astronômica espera responder com o telescópio James Webb?

Físico e divulgador de ciência no canal Ciência Nerd
Universidade Federal de Juiz de Fora

Espelho primário do Telescópio Espacial James Webb na NASA Goddard. Os espelhos do Webb são cobertos por uma camada microscopicamente fina de ouro, que os otimiza para refletir a luz infravermelha, que é o comprimento de onda primário da luz que este telescópio observará.

FOTO: NASA/CHRIS GUNN

Imagine investir mais de 10 bilhões de dólares em uma fabulosa obra de engenharia espacial que levaria mais de 20 anos para ficar pronta. Isso aconteceu com o telescópio espacial James Webb, resultado de uma parceria entre a agência espacial estadunidense – a NASA – e as agências espaciais europeia e canadense. Lançado em dezembro de 2021, não é exagero afirmar que o telescópio já superou todas as expectativas e certamente ainda irá proporcionar muitas descobertas e imagens surpreendentes.

Pesquisadores de diferentes países afirmam que estamos vivenciando uma verdadeira revolução na astronomia. E não é para menos. O maior telescópio já lançado no espaço possui um enorme conjunto de espelhos, de 6,5 metros de diâmetro, e é equipado com instrumentos de ponta, que prometem mostrar o universo como nunca visto antes.

O James Webb capta luzes na frequência do infravermelho, isto é, radiações com frequência mais baixa que a luz visível. Acontece que muitas dessas luzes de baixa frequência foram emitidas por estrelas e galáxias que estão a mais de 13 bilhões de anos-luz de distância. Ou seja: essas luzes que estão chegando hoje até nós, foram emitidas 13 bilhões de anos atrás (cerca de 400 milhões de anos após o Big Bang), exatamente no momento em que as primeiras estrelas e galáxias estavam se formando.

Observar esta fase tão jovem do universo promete revelar como eram as primeiras galáxias e como elas se formaram; se as primeiras galáxias tinham buracos negros em seus centros; como as estrelas se formam dentro das nebulosas; como os planetas se formam; como os sistemas planetários e as galáxias evoluem com o tempo; entre outras.

Também é esperado que o James Webb traga respostas sobre a origem da vida. Graças a um instrumento chamado espectrômetro de infravermelho, o telescópio nos dará informações preciosas sobre a composição química da atmosfera de exoplanetas – os planetas fora do sistema solar. Esse tipo de estudo é importante porque poderá detectar as chamadas bioassinaturas, substâncias que, se encontradas em uma quantidade e proporção bem específicas, nos dão a certeza de que há vida no local, pois não poderiam ser geradas de outras formas.

Uma descoberta dessa magnitude é tudo que a ciência e as agências espaciais desejam, porque irá justificar todo o investimento já feito e incentivará governos e empresas a investirem ainda mais na exploração espacial e na ciência como um todo.

Diante disso, podemos dizer que este é um ótimo momento para se estar vivo e atento à ciência, pois os cientistas irão produzir – nos próximos anos – um volume de conhecimento gigantesco sobre o universo.

Como funciona a nova pílula antirressaca?

Instituto de Microbiologia Paulo de Góes
Universidade Federal do Rio de Janeiro

Em uma palavra: bactérias. O Myrkl, considerado a nova pílula antirressaca, não é um medicamento clássico, mas um suplemento alimentar. Trata-se de um probiótico, desenvolvido pela companhia sueca De Faire Medical, composto por duas bactérias do gênero Bacillus, o B. subtilis e o B. coagulans. Essas bactérias estão vivas, em estado de dormência, dentro de cápsulas resistentes à degradação ácida do estômago. Chegando ao intestino, as cápsulas se dissolvem e as bactérias se tornam ativas novamente. O grande diferencial dessas bactérias é que elas conseguem degradar o álcool etílico em água e gás carbônico. O fabricante afirma que tomar uma cápsula antes da ingestão moderada de álcool previne a ressaca e diminui os efeitos do álcool no organismo, já que as bactérias agiriam antes de sua entrada na corrente sanguínea.

A evidência científica (isso mesmo, no singular) sobre o funcionamento desse probiótico vem de apenas um estudo clínico randomizado e duplo cego. O artigo é transparente, mas os resultados são modestos e deveriam ser vistos como evidências preliminares, ainda muito distantes de afirmações decisivas acerca da cura para ressaca.

Uma das principais fraquezas do artigo é que apenas 24 voluntários foram recrutados, e apenas 14 puderam ser analisados, porque os demais apresentaram níveis de álcool no sangue zerados ou muito baixos. Os participantes do estudo consumiram o Myrkl por sete dias, e, após esse período, ingeriram apenas uma dose (algo entre 50 e 90 ml) de uma bebida alcoólica destilada, como a vodka. Os autores relatam uma diminuição de até 70% na concentração de álcool no sangue dos participantes que ingeriram seu probiótico em comparação aos voluntários que ingeriram placebo. É importante destacar que esse estudo foi financiado pelo fabricante, que também emprega vários dos autores envolvidos.

Sobre a plausibilidade, é certo que algumas espécies do gênero Bacillus podem produzir enzimas que participam da detoxificação do álcool etílico, como a álcool desidrogenase e a aldeído desidrogenase. Além disso, é possível modificar geneticamente essas bactérias para a produção dessas enzimas. Mas o fabricante e os autores do artigo não dão informações detalhadas sobre as bactérias utilizadas. Por outro lado, uma limitação clara dessa abordagem é que o álcool que consumimos já começa a ser absorvido na boca, no estômago e, principelmente, no intestino delgado. Em contraste, bactérias probióticas tendem a colonizar e exercer sua atividade no intestino grosso, onde o trânsito dos alimentos é cerca de dez vezes mais lento em comparação ao intestino delgado.

O fabricante afirma que o Myrkl foi criado para proteger bebedores moderados que não desejam os efeitos desagradáveis da ressaca no dia seguinte, mas as evidências para o funcionamento dessa cura maravilhosa ainda são limitadas, e o teste clínico publicado deixa inúmeras dúvidas em aberto. Por exemplo, a diferença na absorção de álcool e metabolismo em homens e mulheres, ou em diferentes faixas etárias, pode afetar os resultados? E o consumo de álcool com comida? E pessoas com comorbidades?

Apesar dessa solução tentadora, a melhor atitude para evitar a ressaca continua sendo manter-se hidratado e consumir álcool com moderação.

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