Qual a importância da inclusão da licença-maternidade no currículo Lattes?

Quem já precisou preencher os vários campos de um currículo Lattes sabe que a tarefa consome tempo, paciência e pode gerar um pouco de frustração. Não é para menos: tantos anos de dedicação à vida acadêmica ficam resumidos em poucas páginas. Como diz o meme que viralizou entre os pós-graduandos do Brasil, “viver não cabe no Lattes”. Ter um filho também não cabe, mas pelo menos agora a licença-maternidade vai caber. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) adicionou um campo na Plataforma Lattes para que as cientistas possam sinalizar, de forma opcional, seus períodos de licença-maternidade.

E o que é que a maternidade tem a ver com o Lattes? Todo o percurso da carreira acadêmica consome muitos anos de vida e muitas avaliações. Os concursos para pesquisador são cada vez mais disputados e envolvem uma bateria de provas, defesas de projetos e as análises de currículo, que geralmente levarão em conta a produtividade de cada cientista nos últimos anos.

Agora imagine o seguinte cenário: estão na disputa por uma vaga 20 cientistas, igualmente bons e qualificados. Todos terão sua produtividade avaliada nos últimos cinco anos, e cada artigo publicado rende uns pontinhos, podendo ser a chave para um desempate. Seis candidatas tiveram filhos no período de análise do currículo e por dedicarem-se aos bebês durante um tempo, produziram menos. Será muito difícil que elas consigam ter uma pontuação próxima aos demais, mesmo sendo igualmente boas e qualificadas. Elas só tiveram uma pequena pausa em suas carreiras, mas, neste cenário de análise igualitária, a maternidade pode impactar nas conquistas adquiridas nos anos de doutorado e pós-doutorado. É por isso que muitas mães desistem de percorrer o caminho da ciência e acham o ambiente acadêmico injusto e pouco inclusivo.

Foi para discutir e pesquisar o impacto destas questões na ciência brasileira que surgiu o movimento Parent in Science, em 2017. Segundo dados do movimento, a produtividade das cientistas brasileiras sofre uma queda após o nascimento dos filhos, e pode levar quatro anos para ser recuperada. Como a métrica de produtividade nos últimos anos é utilizada para avaliação em concursos e em editais para financiamento, a maternidade acaba contribuindo para o conhecido “efeito tesoura”, em que o número de mulheres vai diminuindo ao longo da carreira acadêmica. A partir do conhecimento desses dados foi iniciada a campanha #maternidadenolattes, solicitando que o CNPq adicionasse um campo para informar períodos de licença-maternidade nos currículos. Alguns editais científicos também começaram a registrar a possibilidade de analisar um ano a mais do currículo para as mulheres que tiveram filhos recentemente. Este fator, por si só, ainda não coloca as mães em posição de equidade, mas já sinaliza um caminho de mudanças para que a vida possa cada vez mais caber no Lattes e na ciência!

 

Rossana Soletti
Departamento Interdisciplinar/CECLIMAR
Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Por que é perigoso inalar hidroxicloroquina?

O uso da nebulização para tratar doenças é um método efetivo em muitas situações – asma, fibrose cística e doença pulmonar obstrutiva crônica são alguns exemplos. O método faz com que as drogas inaladas atinjam altas concentrações nos pulmões, e, dessa forma, aumentem a sua potência. Mas para o tratamento por inalação funcionar, é preciso que a substância seja produzida com esse fim específico. Daí os perigos da nebulização com hidroxicloroquina.

Não se pode simplesmente dissolver um remédio em uma solução de soro fisiológico e inalar. O princípio ativo da maioria dos remédios vem associado com outros componentes chamados excipientes, substâncias seguras para ingestão e que servem para dar a forma final do produto (drágeas, pílulas, soluções, etc.), além de ajudar na preservação do princípio ativo. Existem diversas outras funções para os excipientes, como a de adoçantes, diluentes, lubrificantes e aglutinantes, entre outros.

Para se ter uma ideia, uma formulação de hidroxicloroquina disponível nas farmácias possui os seguintes excipientes em sua formulação: croscarmelose sódica, dióxido de titânio, estearato de magnésio, lactose monoidratada, povidona, amido, hipromelose e macrogol. Todas essas substâncias são inaladas junto com a hidroxicloroquina quando se faz uma nebulização com o pó obtido a partir dos comprimidos. Apesar de seguros para serem ingeridos, esses excipientes não são utilizados na formulação de drogas para serem inaladas, e muitos deles podem causar inflamação e danos nos pulmões, piorando a condição de saúde dos pacientes.

É preciso lembrar também que a cloroquina e a hidroxicloroquina, para as quais não há evidência científica de eficácia no tratamento da covid-19, não são administradas por inalação nem mesmo no tratamento de doenças para as quais são aprovadas, como a malária, o lúpus eritematoso e a artrite reumatoide. Levando-se em conta que a via de administração (seja intravenosa, oral, nasal etc.) tem um grande efeito na absorção e distribuição da droga no organismo, mesmo uma substância aprovada para uso em humanos precisa passar por novos testes clínicos caso uma nova via de administração seja sugerida. Isso é fundamental para avaliar a sua segurança e a efetividade.

Por fim, receitar a inalação de uma droga que deve ser ingerida por via oral e que não foi testada e aprovada para nebulização, é uma atitude negligente, que coloca a vida de pacientes em risco.

 

Leandro Lobo
Instituto de Microbiologia Paulo de Góes
Universidade Federal do Rio de Janeiro

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