Pequenas mudanças na aparência, entre outros fatores, podem limitar nossa capacidade de reconhecer rostos e afetar as memórias construídas pelo nosso cérebro
Pequenas mudanças na aparência, entre outros fatores, podem limitar nossa capacidade de reconhecer rostos e afetar as memórias construídas pelo nosso cérebro
CRÉDITO: DIVULGAÇÃO
Foi no planeta Krypton que nasceu Kal-El, um bebê saudável e bastante inteligente. Seus pais eram cientistas e descobriram que o núcleo do planeta estava tão instável que certamente iria explodir em pouco tempo. Para proteger o filho, eles o colocaram em uma nave com destino ao planeta Terra. Embora Kal-El tenha nascido como uma criança normal, algumas características desse novo planeta lhe conferiram superpoderes.
Para se passar por um civil comum e não ser reconhecido como um super-herói, Kal-El adotou a identidade de Clark Kent, um repórter educado e gentil do jornal Planeta Diário, da cidade fictícia de Metrópolis.
Esse anonimato foi de enorme importância, pois garantiu alguma segurança e proteção aos seus amigos e familiares. Não é à toa que vários super-heróis optam por manter suas verdadeiras identidades sob sigilo.
Por ser algo tão importante e crucial, espera-se que o disfarce de um super-herói seja muito bem feito e consiga preservar sua identidade. E dentre todos os disfarces dos quadrinhos, um dos mais polêmicos e questionáveis é, sem dúvidas, o do Super-homem.
Como pode um herói que mantém seu rosto à mostra (sem usar nenhuma máscara) se tornar irreconhecível apenas trocando de roupa e colocando óculos?
É bem verdade que, além do traje, existem mais diferenças entre Clark Kent e Super-homem, como o estilo do cabelo, a expressão corporal, a postura e até a personalidade. Mas é inegável que o elemento que mais chama a atenção são os óculos.
Será que um simples par de óculos é capaz de fazer uma pessoa passar despercebida? O disfarce do Homem de Aço faz sentido no mundo real? O que diz a ciência sobre isso?
O rosto é um elemento largamente usado no mundo para confirmação da identidade de uma pessoa. Vários documentos pessoais têm uma fotografia nossa para ser comparada com o nosso rosto, como as carteiras de identidade, de motorista, de estudante, o passaporte etc.
Embora nosso rosto seja um dos principais atributos da nossa identidade, isso não significa que a identificação facial seja um método altamente eficaz e seguro.
Muitos estudos do campo da psicologia vêm investigando a nossa capacidade de comparar rostos e identificar pessoas em diferentes situações. Uma maneira de se pesquisar esse assunto é apresentando um par de fotos (com dois rostos parecidos) a várias pessoas e perguntando a elas se as fotos retratam a mesma pessoa ou duas pessoas diferentes.
Quando as fotos são de personalidades famosas e bem conhecidas dos participantes do estudo, há uma maior tendência de acerto. Mas quando se trata de pessoas desconhecidas, a taxa de acerto reduz consideravelmente. E essa conclusão também pode ser atestada pela nossa observação diária.
Você já deve ter percebido que temos uma facilidade grande de reconhecer familiares ou amigos próximos em diferentes imagens. Mesmo naquelas fotografias mais antigas, degradadas pelo tempo, nas quais a pessoa fotografada está bem diferente do presente, somos capazes de identificar e atestar que a pessoa da foto é a que conhecemos.
Por outro lado, se precisamos analisar fotos de desconhecidos (ou de pessoas que temos pouco contato), a dificuldade de identificá-los aumenta consideravelmente.
Se temos alguma dificuldade em reconhecer pessoas desconhecidas em diferentes fotografias, será que os óculos fazem alguma diferença?
Em um estudo realizado em 2016, pesquisadores do departamento de psicologia da Universidade de York (Reino Unido) mostraram pares de retratos a várias pessoas. Metade desses pares de retratos traziam duas pessoas diferentes (mas parecidas), enquanto a outra metade apresentava a mesma pessoa em duas fotos diferentes. O objetivo era verificar se os participantes seriam capazes de acertar se os dois retratos traziam pessoas diferentes ou a mesma pessoa.
Nos pares em que não havia a presença de óculos em nenhuma das duas fotos, a porcentagem de acerto dos participantes foi de 80,9%. Quando ambas as imagens usavam óculos, 79,6% acertaram. Já quando um dos rostos usava óculos e o outro não, o acerto foi de 74%.
Embora seja uma diferença relativamente pequena na taxa de acerto, os pesquisadores concluem que esse é um indício de que o uso de óculos pode tornar mais difícil a tarefa de identificar a mesma pessoa quando ela não está de óculos.
Não por acaso, alguns documentos mais rigorosos (como o visto para entrar nos Estados Unidos) não permitem fotografias com óculos de grau ou qualquer outro adereço facial.
Mas não são apenas os óculos que afetam nossa capacidade de reconhecer rostos.
Cada vez que nos encontramos com uma pessoa, nosso cérebro recebe uma nova imagem dela, ligeiramente diferente da última vez que a vimos. Cada pequena mudança de ângulo, de iluminação, de expressão, cada variação de adereços (como óculos, joias ou maquiagens) nos fornecem uma imagem diferente da mesma pessoa.
Essas variações aumentam a dificuldade para o nosso cérebro associar a nova imagem a uma anterior. Mas quanto mais contato temos com alguém, maior vai ficando o nosso repertório de imagens associadas àquela pessoa e, portanto, maior fica a nossa capacidade de reconhecê-la, mesmo com variações mais bruscas na aparência.
Por essa razão, considerando o grande convívio de Clark Kent com seu grande amor Lois Lane, seria muito improvável que ela não percebesse quem realmente é o Super-homem. Mas é plausível que as demais pessoas, que tinham pouco ou nenhum contato com o repórter, tivessem maior dificuldade em reconhecê-lo trajado de super-herói.
Ainda existem outros fatores capazes de afetar nossa limitada capacidade de registrar e processar informações ao nosso redor. Ao testemunharmos um evento, nossa atenção sempre estará direcionada a algo em específico, enquanto todo o resto terá menos importância e até poderá passar despercebido. É natural que a maior parte das informações que registramos sejam aquelas advindas de onde está o foco da nossa atenção.
Se um super-herói aparece e começa a lutar contra um vilão bem na sua frente, é provável que o seu foco de atenção esteja nessa luta. Dificilmente, diante de um evento tão atípico e emocionante, você seria capaz de registrar detalhes anatômicos e faciais dos envolvidos; mais difícil ainda seria reconhecê-los em encontros futuros.
No caso de um assalto, por exemplo, o estresse gerado por esse evento, a presença de uma arma, as suas emoções, o medo de encarar o assaltante são elementos que dividem a sua atenção e prejudicam o registro de informações, como os detalhes da aparência do criminoso.
As pesquisas mostram ainda que, quando se trata de alguém de outra etnia, a dificuldade de codificar faces é ainda maior. Isso se deve ao fato de não estarmos habituados a ver essas pessoas e à falta de interesse em observarmos verdadeiramente seus traços faciais. Por isso, diversas características que poderiam nos ajudar a distinguir uma pessoa da outra passam despercebidas.
Outro elemento que pode afetar a lembrança de um evento é ouvir o relato de outras pessoas. Quando você ouve alguém contar outra versão sobre um acontecimento que você presenciou, pode acontecer de você incorporar à sua memória informações relatadas por essa pessoa, mesmo que seja uma informação falsa. Esse contágio social da memória (também chamado de ‘conformidade da memória’) é um efeito bastante estudado no campo da psicologia do testemunho, e vários estudos vêm demonstrando a nossa incapacidade de distinguir uma memória verdadeira (baseada na nossa observação) de uma memória falsa adquirida.
Essa memória falsa também pode ser produzida pelo nosso cérebro. Na tentativa de preencher algumas lacunas em nossas lembranças, nosso cérebro pode produzir distorções ou mesmo fabricar memórias, que nos parecem tão reais quanto quaisquer outras.
A capacidade de reconhecer pessoas é um dos recursos usados na investigação de um crime. Coloca-se o suspeito em uma sala ao lado de outras pessoas com aparência similar e uma testemunha do crime é convidada a apontar qual é o criminoso. Esse mesmo procedimento pode ser feito também por fotografias.
Esse tipo de prática já serviu muitas vezes como a principal evidência para acusar e prender suspeitos. Mas será que ela tem uma boa eficácia?
Pelos vários fatores já mencionados, fica claro que a nossa memória não é uma fonte tão segura e inviolável de informações. Utilizar esse recurso como principal evidência na acusação de uma pessoa é extremamente perigoso, e isso já vem sendo debatido no meio jurídico há alguns anos.
São muitos os juízes, psicólogos, pesquisadores e outros especialistas que veem essa prática do reconhecimento de suspeitos com preocupação, pois se sabe que ela já provocou muitos erros judiciais e levou vários inocentes à prisão.
Cabe à ciência seguir investigando a nossa memória e buscando alternativas seguras para a identificação de criminosos e para o controle da identidade das pessoas.
Voltando ao caso do Super-homem, embora os óculos realmente sejam um empecilho na identificação de pessoas, precisamos admitir que, na era das redes sociais e dos smartphones, não é exagero imaginar que um evento tão chamativo quanto o aparecimento de um super-herói atrairia a atenção de milhares de câmeras e geraria diversos vídeos virais circulando na internet, o que facilitaria a identificação do Homem de Aço. Mas, às vezes, é preciso abrir mão da nossa descrença ao ver um filme de super-herói para nos divertirmos um pouco.
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