Sempre fui muito curiosa e gosto muito de estudar. Aos 17 anos, iniciei o curso de ciências biológicas na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A partir de então, meu interesse pela pesquisa foi natural. Desde o primeiro contato com um laboratório de pesquisa, eu me apaixonei pelo trabalho e soube que era o caminho a seguir. Da iniciação científica ao doutorado, trabalhei no Laboratório de Neurobiologia da Depressão da UFSC, sob a orientação da professora Ana Lúcia Severo Rodrigues, pesquisadora brilhante e pessoa inspiradora, que me ensinou muito e me deu toda a base que precisava para seguir na carreira acadêmica com dedicação, ética e entusiasmo.
Meu doutorado, realizado com bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, a CAPES, contou com um período na Universidade de Coimbra, em Portugal, sob orientação do professor Dr. Rodrigo Cunha. Estudei o impacto do estresse no cérebro, principalmente em uma região chamada hipocampo, associada com a memória e o comportamento emocional, avaliando o potencial da cafeína em reduzir o déficit cognitivo e o prejuízo emocional induzidos pelo estresse.
O período em Portugal gerou um grande crescimento profissional e pessoal. Tive contato com pesquisadores de vários países e com técnicas que não eram realizadas no nosso laboratório até então. A experiência internacional foi tão positiva que, em 2009, retornei para o Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra para um pós-doutorado, realizado com uma bolsa da FCT-Portugal e em colaboração com o McGovern Institute for Brain Research no Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, onde trabalhei por seis meses. O foco da minha pesquisa continuou no efeito da cafeína e de moléculas que atuam sobre os mesmos alvos celulares dessa substância, mas, desta vez, observando a amígdala, região do cérebro envolvida nos comportamentos de ansiedade, medo e memórias aversivas, e com potencial para o tratamento do transtorno de estresse pós-traumático.
Apesar de todas as experiências positivas no exterior, voltar ao Brasil e iniciar meu grupo de pesquisa ainda era um objetivo. Então, em 2011, iniciei minha carreira como professora e pesquisadora na Universidade Católica de Pelotas (UCPel), onde atuei até 2013. Em parceria com os professores Gabriela Ghisleni e Jean P. Oses, montei o Laboratório de Neurociências Clínicas, focado no estudo clínico de biomarcadores genéticos e bioquímicos associados com depressão, severidade dos sintomas e resposta ao tratamento.
Minha passagem pela UCPel foi fundamental na minha formação como pesquisadora e como docente. Junto ao Programa de Pós-graduação em Saúde e Comportamento, orientei meus primeiros alunos, aprendi a obter recursos e ser uma pesquisadora independente. Mas, seguindo a vontade de retornar para Florianópolis, minha cidade natal, em 2013 ingressei como professora do Departamento de Bioquímica da UFSC, passando a ter muitos dos meus professores como colegas.
O desafio de iniciar um grupo de pesquisa é imenso, mas contei com muito apoio e a colaborações para formar o grupo de pesquisa que hoje se chama ‘Neurociência translacional’. Paralelamente, oriento alunos no Programa de Pós-graduação em Bioquímica, no Programa de pós-graduação em Neurociências e no PROFBIO, um mestrado profissional voltado para professores da rede pública que atuam no ensino de biologia. Estudamos o impacto do estresse no cérebro e na predisposição a doenças psiquiátricas. Usamos modelos animais e estudos em pacientes para entender alguns mecanismos que podem estar associados à resiliência ou a aumentar a vulnerabilidade ao estresse. A compreensão dos mecanismos de resiliência pode nos ajudar a entender quais populações são mais vulneráveis a apresentar sintomas psiquiátricos significativos e como desenvolver estratégias preventivas. Para responder a essas perguntas, contamos com a colaboração de outros grupos de pesquisa da própria UFSC, da UCPel, e, ainda, com parcerias internacionais, que incluem o Instituto Pasteur de Montevideo (Uruguai), a Universidade de Coimbra (Portugal) e o Hospital Mount Sinai (Estados Unidos).
Entre os reconhecimentos que mais me deram alegria, destaco o prêmio Para mulheres na ciência, que me foi concedido, em 2014, pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), L’Oréal e UNESCO – além de recursos financeiros para pesquisa, meu trabalho ganhou visibilidade, o que ampliou muito as colaborações. Outra honraria profissional foi ser escolhida, em 2017, como membro afiliado da ABC para um mandato de 2018-2021.
Evidentemente, orientar, participar da formação e acompanhar o desenvolvimento de jovens pesquisadores brilhantes – como Fernanda N. Kaufmann, minha primeira aluna de doutorado, que teve sua tese agraciada com Menção Honrosa no Prêmio CAPES de tese de 2019 – está entre as minhas maiores satisfações.
É revigorante focar no lado bom, porque, para trabalhar com pesquisa no Brasil, os desafios são imensos: é necessária muita dedicação e uma boa dose de teimosia. Nós, cientistas, temos lutado mais do que nunca contra a falta de investimentos e a desinformação para tentar manter a motivação dos estudantes e a nossa. O futuro é bastante incerto e confesso que muitas vezes já pensei em fazer o caminho de volta ao exterior. Ver o potencial dos nossos alunos e a qualidade dos nossos pesquisadores é o que me mantém motivada. A ciência não nos dá certezas e frequentemente gera mais dúvidas. Nossa única certeza é de que não existe progresso e bem-estar social que não passe por ela.
Manuella Kaster
Departamento de Bioquímica
Universidade Federal de Santa Catarina
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