As estrelas parecem pontos distantes e frios no céu. Mas são fornalhas produtoras de elementos químicos. Transformamos essa matéria para o bem e o mal, assim como acontece com o fogo. Ainda temos que aprender a usar nosso conhecimento

CRÉDITO: FOTO ADOBE STOCK

Que as estrelas no céu estejam distantes, ninguém duvida. E, com exceção do Sol, parecem diminutos pontos frios no céu. Porém, isso é um equívoco. Elas têm um quente coração que arde a temperatura que provoca profundas transformações na matéria lá contida.

No centro desses corpos celestes, a temperatura atinge dezenas de milhões de graus, e os átomos ali presentes não conseguem mais manter seus elétrons, restando só núcleos carregados eletricamente.

Estrelas são como fábricas estelares. Em um piscar de olhos, elas transformam dezenas de milhões de toneladas de núcleos de hidrogênio (prótons, na verdade) em núcleos de hélio (dois prótons e dois nêutrons).

Com o tempo, novos átomos são forjados: carbono, oxigênio, ferro etc. Queimado todo seu combustível, estrelas dão seu último suspiro de vida, antes de sua morte explosiva, espalhando, assim, esses elementos pelo espaço, os quais servem de matéria-prima para a formação de novas estrelas e planetas.

A Terra é o resultado de parte dessas sementes estelares. E nós, humanos, aprendemos como usar essa matéria-prima e transformá-la em diferentes coisas. Exemplo emblemático é o do fogo, que nos permitiu transformar matéria em calor e nos proteger das intempéries. Com ele, aprendemos a fundir o aço e o bronze, queimar o barro para obter a cerâmica, cozinhar para aplacar a fome.

Mas, sem dúvida, nossa mais extraordinária descoberta – depois de tanto transformar a matéria –, foi entender que ela é feita de átomos, o que nos permitiu fazer um sem-número de coisas com eles. Com base em infinitas combinações desses fragmentos de matéria, criamos novos materiais e produzimos novos fenômenos físicos e químicos. E essas descobertas trouxeram avanço científico e tecnológico nunca antes sonhado.

Aprendemos a transformar, por exemplo, carbono em diamantes, areia em vidro, pedras em metal – criamos plásticos que são, ao mesmo tempo, isolantes e condutores de eletricidade. Os elementos silício, germânio e gálio viram transistores, com os quais construímos computadores. Desenvolvemos vasta gama de metais: ferro, cromo, cobalto, nióbio e níquel, usados em carros, aviões, foguetes etc. Construímos arranjos de átomos que formam moléculas capazes de armazenar informações e, até mesmo, prolongar nossa vida.

Aprendemos a dividir átomos e deles extrair energia suficiente para iluminar casas, impulsionar navios, bem como usá-la para aplacar o sofrimento, curando doenças terríveis. Também imitamos as estrelas, fundindo átomos, criando pequenos sóis, liberando enormes quantidades de energia que, assim como o fogo, pode ser usada para a guerra.

A mitologia conta que o fogo foi roubado dos deuses e dado aos humanos, fazendo com que eles se sentissem superiores a todos os outros animais. A humanidade, ao buscar o entendimento da natureza, aprendeu a usar o fogo em suas diferentes formas e representações (de palitos de fósforo a caldeiras de siderúrgicas), para gerar qualidade de vida, progresso e bem-estar para a humanidade.

Mas esse conhecimento também foi – e tem sido – usado para causar mortes e destruição em larga escala – como é o caso da invasão da Ucrânia. Ainda não aprendemos a usar essa dádiva, que não é divina, mas, sim, humana. Ou seja, ainda não sabemos usar o conhecimento de forma a criar sempre (e apenas) benefícios para nosso planeta e para todas as suas formas de vida.

Adilson de Oliveira
Departamento de Física,
Universidade Federal de São Carlos (SP)

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