Oswaldo Cruz (1872-1917) era um viajante incansável: percorreu o Brasil de norte a sul e visitou inúmeros países na Europa e nas Américas. Sua primeira viagem foi em 1877, aos cinco anos de idade, quando seus pais se mudaram de São Luiz do Paraitinga, em São Paulo, para o Rio de Janeiro.
No bairro do Jardim Botânico, onde foi morar com a família, conheceu Emília Fonseca, a Miloca, sua companheira da vida inteira. Com ela, esteve pela primeira vez em Paris, para fazer o curso de especialização em microbiologia no Instituto Pasteur. O casal embarcou em 1897 para a capital francesa com dois filhos pequenos, Lizeta e Bento, e lá nasceria a terceira filha, Hercília. Voltaram em 1898.
Depois disso, Oswaldo Cruz não parou mais. Sempre a trabalho, foi para Berlim, Paris, Londres, Washington, Nova York, Cidade do México, Dresden (Alemanha), Buenos Aires, Montevideu, Assunção… Conheceu todos os portos fluviais e marítimos do Brasil, foi até a região onde se construía a estrada de ferro Madeira-Mamoré, em Porto Velho, além de visitar Manaus e Belém.
Outra coisa que ele gostava de fazer era escrever cartas. Sagaz observador, nas cartas apaixonadas para a esposa, o cientista dosava humor e uma fina ironia nos relatos minuciosos em que descrevia paisagens urbanas e rurais, pessoas comuns e autoridades.
Graças a essas duas características, o espírito viajante e o gosto pela escrita, Oswaldo Cruz nos deixou um importante conjunto de cartas, que faz parte de seu arquivo pessoal e nos permite acompanhar as experiências vividas pelo cientista brasileiro em suas andanças pelo mundo.
Uma das mais interessantes aconteceu em 1914, quando resolveu voltar à Europa para ver de perto as pesquisas que os cientistas franceses e ingleses, com quem se correspondia, estavam fazendo. Em viagem com a família, escreveu para o amigo Egydio Salles Guerra.
Os Cruz chegaram a Paris em meados de julho. A iminência da guerra fez com que o governo francês restringisse o dinheiro que circulava na época, e era grande a dificuldade para trocar os bilhetes de banco por francos. O medo das bombas lançadas por aeroplanos alemães sobre a capital francesa, após o início da guerra, foi mais um fator para decidirem partir para Londres.
Na estação Saint Lazare, onde pegaria o trem para a Normandia com sua família, Oswaldo Cruz valeu-se da recente condecoração de cavaleiro da Ordem Nacional da Legião de Honra francesa para conseguir embarcar, uma vez que uma multidão também tentava sair de Paris. Chegando ao porto de Diepe, de onde deveriam cruzar o Canal da Mancha, assistiram mais uma vez à fuga em massa dos franceses no norte.
Em Londres, a estadia foi mais tranquila, embora perdurasse o medo de um ataque aéreo alemão. Em carta ao filho Bento, que estava em Liverpool (Inglaterra), Cruz relata que ele e a esposa visitaram os principais pontos turísticos da cidade, como a National Gallery, em companhia do diplomata e escritor José Pereira da Graça Aranha (1868-1931), e a Abadia de Westminster. Na carta, aborda também a estratégia utilizada pelas autoridades londrinas para enganar a frota aérea alemã:
“Londres continua a precaver-se contra os Zeppelins. Às noites apagam todos os principais combustores e iluminam fartamente o Hyde Park por meio de lanternas, de maneira que da altura se tenha a ilusão de ser ele o centro da cidade. Nós é que não ficamos muito bem colocados se essa estratégia tiver de ser aproveitada. Mas à vista do estado de coisas creio que os alemães não mais terão coragem de fazer avançar a frota aérea de que dispõem.”
Londres, 15/09/1914 – Fundo Oswaldo Cruz – Acervo DAD/COC.
Não paravam de chegar notícias de transatlânticos torpedeados pelos alemães perto da costa brasileira, e voltar para o Brasil naquele momento representava um risco. No entanto, Oswaldo Cruz sentia-se pressionado a reassumir seu posto em Manguinhos, e decidiu voltar sozinho. Em 15 de janeiro de 1915, escrevia do navio holandês S.S. Frísia à esposa, contando as conversas com um passageiro belga, que lhe falou sobre a ocupação alemã em Bruxelas e sobre a atitude heroica do rei Alberto:
“Estava ele na linha de fogo (os generais nunca vão em pessoa aos lugares expostos) quando cai ferido um soldado numa trincheira. Ele se acercou do ferido e indicou-lhe o lugar da ambulância e mandou que se fosse tratar. Depois entrou na trincheira, tomou o fuzil do ferido e ele –o rei – entre os soldados continuou a atirar até que novos soldados viessem para substituir os feridos.”
Lisboa, 15/01/1915 – Fundo Oswaldo Cruz – Acervo DAD/COC.
De volta ao Rio de Janeiro, correspondia-se intensamente com a família. Da filha Lizeta, recebeu cartas decoradas com as bandeiras dos países aliados, em que ela compartilhava a ideia de que a guerra seria curta:
“Que lindas vitórias têm tido os aliados ultimamente, não achas? Os russos têm feito sempre sucessos diários na Alsácia. Os ingleses pessimistas como são já falam com naturalidade na Victoria e na probabilidade de uma paz bem próxima.”
Londres, 04/02/1915 – Fundo Oswaldo Cruz – Acervo DAD/COC.
Em meados de 1915, a família voltou a se reunir no Rio de Janeiro. Essa foi a última grande viagem empreendida por Oswaldo Cruz, pois sua saúde debilitava-se rapidamente. No entanto, os fatos que testemunhara naqueles meses marcaram o início de uma grande transformação. O mundo jamais seria o mesmo.
Ana Luce Girão Soares de Lima
Departamento de Arquivo e Documentação,
Casa de Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz
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