Paganismo e cristianismo nas noites de Natal

Das longas festas da Saturnália ao simbolismo da árvore, passando pelo nascimento de Jesus e as análises antropológicas sobre a origem do Papai Noel

CRÉDITO: CLEMENT CLARKE MOORE: THE NIGHT BEFORE CHRISTMAS / REPRODUÇÃO

Embora o Natal seja uma manifestação religiosa, em que os cristãos celebram o nascimento de Jesus, a data se transformou mesmo em uma festa com características consumistas: é a época do ano mais esperada pelo comércio. No entanto, suas origens remontam às mais antigas crenças da humanidade, como as comemorações do império romano pelo solstício de inverno no hemisfério norte. A chamada Saturnália era uma festa pagã em homenagem ao deus romano Saturno, o deus da agricultura, e durava sete dias, tendo início em 17 de dezembro. Era marcada por muita música, banquetes, danças, jogos, brincadeiras e troca de presentes. Ninguém precisava trabalhar, e aos escravos era concedido o direito de participar de tudo – uma liberdade temporária. Somente no século 4, quando o Ocidente se tornou cristão, é que o Imperador Constantino uniu o culto pagão ao cristão, transformando a Saturnália em uma comemoração ao nascimento de Jesus. Estabeleceu o dia 25 de dezembro para isso.

Quanto ao Papai Noel, o antropólogo francês Claude Lévi-Stauss (1908-2009), afirmou ser muito confusa a sua origem, a começar pelos nomes que lhes são dados: São Nicolau, Santa Claus, Papai Natal… Para ele, a figura do Papai Noel que conhecemos é uma invenção da modernidade, assim como a crença de que mora no polo Norte e anda num trenó puxado por renas. Em sua pesquisa sobre o Natal, Lévi-Strauss faz uma analogia entre a figura de Papai Noel com a de alguns mitos, como o dos índios do sudoeste dos Estados Unidos, a Kachina – espírito que encarna divindades ancestrais, que voltam periodicamente para punir ou presentear as crianças, dependendo do comportamento delas durante o ano. São pessoas da própria aldeia que, fantasiadas e mascaradas, se transformam nas Kachinas. 

Outra origem do Papai Noel estaria relacionada às comemorações dos reis do Natal, oriundos dos reis da Saturnália romana; ou ao Julebok escandinavo, um demônio chifrudo do mundo subterrâneo que presenteia as crianças; ou ainda a São Nicolau, que fez o milagre de ressuscitar três meninos que haviam sido mortos por um açougueiro que pretendia vender suas carnes.

O tal bom velhinho de roupas vermelhas e faces rechonchudas só foi criado no século 19, nos Estados Unidos. Dizem também que foi o poeta Clement Clark Moore (1779-1863), estadunidense de tradição protestante, quem o criou. Em um poema escrito em 1822, ele falou da figura do velhinho com um saco de presentes nas costas, como sendo o Papai Noel.

Mas e a árvore de Natal? Esta remonta ao fato de que a árvore é um símbolo importante para quase todas as religiões, inclusive as mais antigas. No entanto, as primeiras árvores decoradas de que se tem notícia surgiram na Alemanha do século 16, época da reforma religiosa. Foi o próprio Martinho Lutero quem incentivou esse costume, portanto trata-se de uma tradição igualmente adotada pelos protestantes.

Georgina Martins
Curso de Especialização em Literatura Infantil e Juvenil, Faculdade de Letras
Universidade Federal do Rio de Janeiro

Escritora de livros para crianças e jovens

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