Física e ciência, substantivos femininos

Professora titular da UFRJ relembra a ebulição do movimento feminista durante seu doutorado em Berkeley (EUA) e revela o que considera a melhor estratégia para empoderar mulheres cientistas.

A física sempre me fez sentir estimulada e confortável, mesmo antes da universidade. Se vivi algum momento de indecisão, bastou uma semana frequentando o curso normal, de formação de professores, para perceber que aquele não era meu lugar. Quase imediatamente, voltei ao ‘científico’ (que correspondia, até o início dos anos 1970, ao ensino médio, mas focado nas ciências exatas, enquanto o ‘clássico’ era voltado às humanas). No curso, os livros eram da série PSSC (Physical Science Study Committee), projeto criado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e trazido para o Brasil na década de 1960; e neles encontrei, quase que brincando, demonstrações de como os gigantes de As viagens de Gulliver seriam esmagados pelo próprio peso se viessem ao nosso mundo, e também de que a intensidade da luz varia com o inverso do quadrado da distância da fonte. Tudo sem uma fórmula a decorar.

Assim, decidi bem cedo ser física. A profissão era pouco comum, o que motivou um episódio curioso. Meu pai conseguiu contatar um pesquisador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e o convidou a nos visitar. Em um sábado, o físico apareceu e começou a me fazer perguntas simples de matemática e física, que respondi apressada porque tinha um encontro marcado na praia. Fiquei sabendo depois que meu pai entrevistou o físico perguntador para saber se era possível sobreviver trabalhando com física, e se eu teria chance. As respostas às duas perguntas foram positivas, e aqui estou…  Devido à pressa, não fixei o nome daquele físico, hoje gostaria de saber quem foi.

A física Belita Koiller recebeu, em 2005, Prêmio Internacional L’Oreal-Unesco Para Mulheres na Ciência para a região da América Latina e Caribe.
Foto: Arquivo pessoal

Para mim, fazer física é uma sucessão de desafios a enfrentar. A pesquisa pelas respostas é muitas vezes prazerosa, e chegar a resultados novos é gratificante.

Belita Koiller

Instituto de Física
Universidade Federal do Rio de Janeiro

CONTEÚDO EXCLUSIVO PARA ASSINANTES

Para acessar este ou outros conteúdos exclusivos por favor faça Login ou Assine a Ciência Hoje.

Seu Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Outros conteúdos desta edição

614_256 att-33542
614_256 att-35459
614_256 att-27650
614_256 att-34997
614_256 att-34900
614_256 att-34887
614_256 att-34807
614_256 att-34796
614_256 att-34783
614_256 att-34646
614_256 att-34547
614_256 att-34528
614_256 att-34519
614_256 att-34502
614_256 att-34494

Outros conteúdos nesta categoria

725_480 att-91333
725_480 att-90658
725_480 att-90123
725_480 att-89132
725_480 att-88687
725_480 att-88082
725_480 att-87735
725_480 att-87219
725_480 att-86562
725_480 att-85908
725_480 att-85635
725_480 att-84907
725_480 att-84594
725_480 att-84249
725_480 att-83821