Dona Florinda Joanes Gaspar transitava entre os dois lados do Atlântico traficando cativos e registrando e vendendo terrenos em Benguela, na África, e no Rio de Janeiro.
A melhor parte do meu trabalho é passar horas lendo registros históricos na tentativa de reconstruir a história de africanas que residiam em Benguela, Angola, no litoral da África Ocidental, nos séculos 18 e 19. Surpreendentemente, há muita informação sobre as mulheres livres e de elite; no entanto, também há dados disponíveis nos arquivos angolanos e portugueses sobre libertas e escravizadas – dados que, muitas vezes, passam despercebidos entre mapas populacionais, registros eclesiásticos e correspondência oficial.
As donas, as mercadoras africanas, mulheres poderosas em seu tempo, têm certa preponderância nessa documentação. Entretanto, reconstruir suas vidas requer visitar arquivos em três países (Angola, Portugal e Brasil) e muita paciência para ler centenas de páginas que relatam guerras e apresentam fauna e flora. Em meio a leituras e viagens, percebi que havia localizado uma mercadora excepcional: Dona Florinda Joanes Gaspar. O ‘encontro’ não foi por acaso, mas fruto de horas, dias e meses de investigação, na qual a experiência de africanos é priorizada na pesquisa.