Há 100 anos, o Brasil recebia a visita de Einstein

Museu de Astronomia e Ciências Afins (RJ)

O ano de 2025 marca o centenário da visita ao Brasil do físico Albert Einstein, um dos maiores cientistas de todos os tempos. A viagem – que incluiu passagens pela Argentina e pelo Uruguai – foi marcada por palestras, visitas a instituições e turismo – e também pela defesa e por críticas à teoria da relatividade, trabalho que lhe rendeu fama mundial. Apesar de ter encontrado poucos interlocutores científicos entre nós, sua estada serviu para evidenciar a importância da pesquisa básica no meio acadêmico brasileiro.

CRÉDITO: ILUSTRAÇÕES RAFA PASCOTTO

Há 100 anos, em 4 de maio de 1925, o físico de origem alemã Albert Einstein (1879-1955) desembarcava no porto da cidade do Rio de Janeiro para uma visita de uma semana. Já era a segunda vez que ele vinha à cidade. A primeira foi pouco antes, em 21 de março, quando o navio que o levava à Argentina fez uma parada técnica de um dia.

Nesta primeira estada, ele foi recebido por jornalistas que subiram ao navio afoitos por obter alguma declaração bombástica, além de cientistas e membros da comunidade judaica. Convidaram-no para um passeio pela cidade durante o período em que o navio ficaria ancorado no porto. 

Saíram numa comitiva de sete carros em direção ao Jardim Botânico, passearam pela cidade e seguiram para um almoço – oferecido pelo jornalista brasileiro Assis Chateaubriand (1892-1968), dono de O Jornal – no Hotel Copacabana Palace, recém-inaugurado. Apesar do calor, Einstein ficou encantado com a cidade e a recepção recebida. Em seu diário de viagem, escreveu: 

Jardim Botânico, bem como flora de modo geral, supera os sonhos das 1.001 noites. Tudo vive e cresce a olhos vistos por assim dizer. Deliciosa mistura étnica nas ruas. Português-índio-negro com todos os cruzamentos. Espontâneos como plantas, subjugados pelo calor. Experiência fantástica. Uma indescritível abundância de impressões em poucas horas.”

Einstein já era famoso mundialmente, e sua fama, para além do meio científico, guarda uma relação com o Brasil. Em 1915, ele havia mostrado na relatividade geral (uma nova teoria da gravidade) que a massa dos corpos deforma o espaço-tempo em torno deles – espaço-tempo é um uno quadrimensional que reúne de forma indissociável as três dimensões espaciais (altura, largura e comprimento) e o tempo. 

Essa deformação espaço-temporal – responsável pelo fenômeno da gravidade – explicava um problema que intrigava os astrônomos havia muitos anos. A órbita de Mercúrio sofria uma pequena alteração no ponto em que se encontrava mais próximo do Sol. Os cálculos de Einstein mostraram que a alteração na órbita do planeta coincidia com a deformação causada no espaço-tempo pelo Sol.

Na relatividade geral, Einstein também propôs que a luz sofreria o mesmo desvio. Isso poderia ser comprovado ao se comparar a luz das estrelas quando suas trajetórias passam próximas e distantes do Sol. Esse fenômeno poderia ser observado em um eclipse solar, quando é possível ver a luz das estrelas próximas a essa estrela. 

Esse efeito foi comprovado por duas comissões inglesas que observaram o eclipse total do Sol, em 19 de maio de 1919 – uma no golfo da Guiné, no oeste da África, e a outra na cidade de Sobral, no Ceará. 

A primeira comissão não conseguiu observar, por causa do céu nublado, mas a segunda apresentou resultados animadores. Talvez, isso não causasse tanta repercussão para além do meio acadêmico, caso não tivesse sido anunciado numa sessão conjunta da Royal Society e da Royal Astronomical Society, bem como noticiado com estardalhaço pelo jornal The Times, de Londres, com a manchete “Superadas as ideias de Newton”, feito replicado em jornais ao redor do mundo. 

A partir de então, Einstein começou a fazer grandes viagens para fora da Europa. A primeira foi para os EUA. Depois, para o Japão, passando na volta pela região da Palestina e pela Espanha. A terceira foi essa, para a América do Sul, quando visitou Argentina, Brasil e Uruguai.

Suas longas viagens eram motivadas pelo desejo de conhecer outras culturas, discutir física com cientistas de outras regiões, angariar apoio para a construção da Universidade Hebraica de Jerusalém, falar sobre a importância da paz e os riscos de uma nova guerra na Europa, ou apenas se refugiar do clima tóxico da Alemanha no período após Primeira Guerra Mundial. 

Na Alemanha, ele sofria ataques não só por ser pacifista e judeu, mas também por causa de suas teorias científicas – nas palavras dele, uma “campanha antirrelatividade”. Em todos os lugares por onde passava, sua presença causava grande movimentação – a comitiva de sete carros que o acompanhou em sua chegada ao Rio de Janeiro em nada se comparava ao cortejo de 200 veículos que desfilaram por Nova York, quando ele, pouco antes, visitou essa cidade.

Diário de viagem de Einstein – Argentina, Uruguai e Brasil.

Albert Einstein Archives, Universidade Hebraica de Jerusalém.J

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