Imagine a seguinte cena: um deserto, mais especificamente um oásis. A água era pouca, mas havia plantas nas proximidades das margens da nascente e animais bem diferentes dos atuais vivendo por ali. Lagartos esquisitos, como o Gueragama, faziam tocas para se abrigar do sol. Na vegetação arbustiva, frutificações atraíam vários répteis voadores da espécie Caiuajara. De longe, um grupo de dinossauros Vespersaurus ficava à espreita, procurando uma oportunidade para se aproximar dos répteis alados, que eram a sua base alimentar. De repente, um som longínquo corta o silêncio e uma sombra passa pela areia. Todos os animais se voltam para cima. Era um pterossauro de mais de três metros. Este aterrissa em cima de uma carcaça de dinossauro. Olha ao redor e, minutos depois, inicia o seu ‘almoço’.
Cenas que mostram a relação entre organismos extintos são comumente retratadas em filmes sobre a pré-história, em especial envolvendo os dinossauros. O que poucos sabem é que essas relações entre as espécies fósseis são inferidas sem muita comprovação, sobretudo quando se fala nos pterossauros, que foram os primeiros vertebrados a desenvolverem o voo ativo, conquistando os céus do passado longínquo do nosso planeta. Até hoje, eram conhecidas apenas três acumulações em grandes quantidades desses répteis alados concentradas em um mesmo nível: uma na Argentina, outra na China e uma no Brasil. Em todas foi encontrada apenas uma única espécie. Mas agora pesquisadores (incluindo este colunista) acabam de anunciar a descrição de um novo pterossauro, que foi encontrado associado a outra espécie de réptil voador já conhecida e a um dinossauro. O trabalho foi publicado em destaque nos Anais da Academia Brasileira de Ciências.
O novo pterossauro, Keresdrakon vilsoni, foi encontrado em um sítio denominado ‘cemitério dos pterossauros’, que fica nos arredores da cidade Cruzeiro do Oeste, no Paraná. Em 2014, foram descritos os primeiros fósseis desse depósito: centenas de ossos do pterossauro Caiuajara! Era a primeira acumulação em massa – também chamada de bonebeds – de pterossauros no Brasil. Depois, foi encontrado o lagarto Gueragama e, mais recentemente, o dinossauro Vespersaurus, do qual já se tinha conhecimento antes da publicação. Aliás, existem muitos exemplares desse dinossauro bastante interessante depositados no Centro Paleontológico da Universidade do Contestado (CENPALEO), em Mafra (Santa Catarina), que estão sendo estudados. E agora temos o Keresdrakon.
A importância do trabalho não se limita a apresentar uma nova espécie. O mais interessante nesse estudo – e que pode passar despercebido por alguns pesquisadores – é o fato de se encontrar uma sucessão de três horizontes com grande concentração de ossos (os bonebeds) com a associação de duas espécies de pterossauros, cada uma especializada em um modo de vida e hábito alimentar.
O Caiuajara pertence ao grupo chamado Tapejarinae, considerado frugívoro e que devia se alimentar de pequenas frutificações. Como foi encontrado em grande quantidade, esse réptil alado deve ter vivido em bandos. Já o novo pterossauro, o Keresdrakon, encontrado em menor quantidade, deve ter tido um hábito solitário. Muito provavelmente se alimentava de ovos, filhotes ou indivíduos muito jovens de Caiuajara. Alternativamente, ele também poderia ter sido uma espécie carniceira, se alimentando de carcaças de pterossauros, bem como do dinossauro Vespersaurus. Ou seja, dois hábitos alimentares bem distintos, algo que se espera de espécies que dividem o mesmo espaço geográfico.
O estudo ainda apresenta novos dados sobre o Vespersaurus. Esse dinossauro, encontrado em abundância, mas em menor quantidade que o Caiuajara, também deveria ter vivido em pequenos bandos e se alimentado do Caiuajara. Seria mais difícil para ele caçar o Keresdrakon, que, com os seus 3 metros de abertura alar, era bem maior.
O nome Keresdrakon é a junção de Keres, que, na mitologia grega, são espíritos que personificaram a morte violenta, e drakon, que significa dragão ou grande serpente, em grego antigo. Já o nome vilsoni é uma justa homenagem ao Sr. Vilson Greinert, que dedicou horas do seu tempo à preparação de fósseis, inclusive os que estão expostos em Cruzeiro do Oeste. Justiça está sendo feita a esse grande incentivador da paleontologia! Esse trabalho é fruto da união de cientistas de diferentes instituições, que, além de fazer essa importante descoberta, estão auxiliando na reconstrução do Museu Nacional/UFRJ.
Alexander W. A. Kellner
Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Academia Brasileira de Ciências
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