Nesses últimos anos, o mundo foi maravilhado com exemplares fósseis fantásticos vindos de Mianmar, país situado no sul do continente asiático e antigamente conhecido como Birmânia. O material encontra-se preservado em âmbar, uma resina fóssil formada há 99 milhões de anos, procedente de minas localizadas sobretudo no estado de Kachin, no norte do país.
Já foram descobertas centenas de insetos, aranhas, escorpiões, plantas diversas, penas – até com parasitas – e vertebrados como sapos, lagartos e aves. Sem contar uma cauda de dinossauro contendo tecidos moles, algo absolutamente inimaginável até para o mais otimista dos paleontólogos! Pode-se dizer inclusive que o enredo de Jurassic Park foi, de certa forma, superado: se, na trama fictícia do filme, DNA poderia ser extraído de insetos preservados em âmbar, imagine de uma cauda de dinossauro! Confesso que eu mesmo fiquei esperançoso de algum dia realizar um desejo particular: encontrar um pedaço de couro de pterossauro (répteis alados que eu estudo) preservado em resina fossilizada.
Porém, esse material está relacionado a um grande problema, que transcende a questão científica e está levando muitos pesquisadores a um dilema ético. Se, por um lado, esses exemplares são muito importantes por revelarem riqueza de detalhes sobre organismos fósseis, por outro, sabe-se que as minas onde se encontram são dominadas pelas terríveis forças armadas de Mianmar, denominadas de Tatmadaw, que, no início do ano, promoveram um golpe de estado no país. Com a decretação da lei marcial por um ano, todos os recursos que provêm da extração e exportação do âmbar têm fomentado essas forças armadas, responsáveis por centenas de assassinados.
Além disso, não se sabe em que condições a população local tem trabalhado nas minas, que são inacessíveis para a imprensa independente. Os poucos relatos têm sido muito negativos, revelando uma crise humanitária envolvendo acusações de trabalho escravo e até de limpeza étnica, situação condenada pela Organização das Nações Unidas.
Procurando agir com responsabilidade, sociedades científicas como a Sociedade de Paleontologia de Vertebrados, a principal na área de pesquisa de vertebrados fósseis, defendem uma rígida moratória na publicação de estudos envolvendo os espécimes de Mianmar até que a situação seja resolvida. Essa medida ganhou bastante apoio em um primeiro momento, mas passou a ser criticada recentemente.
Recomendando cautela, pesquisadores liderados por Chao Shi, da Academia de Ciências da China, publicaram uma nota contrapondo a generalização do banimento da pesquisa desse material. Shi e colegas argumentam que a resina fóssil é explorada há dois mil anos em Mianmar, cujas leis permitem a sua extração, comercialização e exportação. Isso se deve ao fato de o âmbar receber das autoridades competentes o status de pedra preciosa, e não de fóssil, o que permite sua aquisição legal. Apesar de concordarem com uma restrição do comércio dessas peças devido ao golpe de estado, Shi e colegas defendem que não se deve privar a ciência das importantes informações obtidas a partir dos exemplares que foram adquiridos legalmente.
No entanto, é cada vez maior entre os pesquisadores a percepção de que, antes mesmo do recente golpe, os achados têm sido feitos ao custo do sofrimento de pessoas. Nos últimos anos, a extração dessas peças tem fomentado contrabando, violência e mortes, fazendo com que muitos se refiram a esse material como “âmbar de sangue”. Além disso, existe uma lei em Mianmar proibindo a exportação de fósseis, que é burlada pela ‘conveniente’ classificação do âmbar como pedra preciosa. Mas isso não muda o fato de que se trata de um fóssil, não sendo eticamente defensável se ‘esconder’ atrás de uma questão semântica.
Não é uma situação fácil, e muitos se sentem como se caminhassem sobre um campo minado. Sabemos que o mundo está em constante mudança e que não é mais possível negligenciar questões éticas em qualquer área. Naturalmente, a prioridade de um país envolvido em conflitos internos como Mianmar certamente não está em suas leis contraditórias referentes ao âmbar. Ao mesmo tempo, a comunidade científica internacional deve, no mínimo, respeito e consideração aos pesquisadores daquele país, que atualmente devem ter o seu trabalho ainda mais dificultado e só estão preocupados em produzir ciência. É preciso avaliar como esses paleontólogos poderão ser auxiliados pela comunidade internacional. Ações oportunistas, que, muitas vezes, norteiam comportamentos, não podem continuar sendo o modo de agir. Devolução de fósseis e cooperações científicas com pesquisadores de Mianmar são caminhos a serem trilhados.
Alexander W. A. Kellner
Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Academia Brasileira de Ciências
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