Estudar os fatores associados à frequência e distribuição das doenças nos diferentes grupos sociais fornece dados importantes para orientar a definição e a avaliação de políticas de saúde, entre outras aplicações
Estudar os fatores associados à frequência e distribuição das doenças nos diferentes grupos sociais fornece dados importantes para orientar a definição e a avaliação de políticas de saúde, entre outras aplicações
CRÉDITO: IMAGEM ADOBE STOCK
O uso de estudos epidemiológicos como instrumento para produção de conhecimentos sobre o processo saúde-doença vem alcançando espaços e aplicação crescentes no campo médico-sanitário.
A Associação Internacional de Epidemiologia define essa área como o “estudo dos fatores que determinam a frequência e a distribuição das doenças nas coletividades humanas”. Assim, os estudos epidemiológicos se debruçam sobre a descrição de como o processo saúde-doença se distribui nos diversos segmentos sociais da população e, a partir dessas descrições, procura identificar os fatores que explicam as diferenças detectadas, especialmente no que se refere às desigualdades sociais existentes.
Várias são as aplicações do conhecimento epidemiológico. A primeira delas são as imensas possibilidades de indicar a causalidade de doenças. Um exemplo marcante dessa aplicação são os estudos sistemáticos da associação entre o tabagismo e a ocorrência de câncer de pulmão. Desde a década de 1950, dispõe-se de estudos que mostram de modo inequívoco essa relação. Da mesma forma, com a expansão dos estudos, vários outros cânceres, como o de bexiga, ao lado das doenças do aparelho cardiocirculatório, como o enfarte do miocárdio, mostraram-se associados ao vício do fumo.
As cuidadosas investigações epidemiológicas permitem a descrição de novas patologias. Pesquisadores brasileiros que acompanharam e acompanham cientificamente os casos de Zika detectaram que a ocorrência da doença no período gestacional estava associada à síndrome congênita do Zika vírus, cuja maior repercussão é a microcefalia.
Dentre os usos da epidemiologia, ressalta-se a vigilância epidemiológica, que consiste em detectar, acompanhar e intervir no comportamento de doenças transmissíveis infecciosas. Durante a recente pandemia de covid-19, apesar do descaso das autoridades federais, essa atividade foi mantida por meio de um consórcio da imprensa e das instâncias estaduais e municipais, permitindo, assim, conhecer a dinâmica da doença e realizar ações para controlar sua expansão.
Um dos importantes instrumentos dos estudos epidemiológicos são os ensaios clínicos, que representam um avanço significativo no campo da prevenção e terapêutica em saúde.
Em relação à prevenção de doenças, a introdução de quaisquer vacinas para uso populacional somente é feita após rigorosos estudos baseados em ensaios clínicos. Na recente pandemia de covid-19, por exemplo, as vacinas aprovadas foram testadas e introduzidas após estudos que obedeceram ao rigor dessa técnica metodológica. Da mesma forma, novos medicamentos ou procedimentos para tratamento de doenças precisam ser submetidos a ensaios clínicos antes de serem disponibilizados à população.
Em ambos os casos, tanto para medidas preventivas quanto para medidas terapêuticas, os estudos devem obedecer, obrigatoriamente, às regras preconizadas pelas resoluções de ética em pesquisa com seres humanos. Essas resoluções visam proteger os voluntários participantes dos estudos, bem como expor claramente o seu correto desenvolvimento. Nesse aspecto, o Brasil dispõe de um sistema completo de instâncias (comissões de ética em pesquisa), que acompanham os processos de pesquisa.
As análises epidemiológicas têm permitido reconhecer as influências das condições de vida sobre a situação de saúde das diversas populações. A partir da descrição dos eventos de saúde e de sua frequência nos diferentes grupos da sociedade, é possível identificar desigualdades sociais na ocorrência de doenças e o que as explicam. Várias são as situações que indicam, entre outros fatores, a influência da escolaridade, da ocupação, do estado marital, da faixa etária e do nível de renda familiar e per capita na situação de saúde, bem como no acesso aos serviços de saúde. Em relação à renda, por exemplo, estudos têm mostrado como as pessoas de renda mais baixa têm piores indicadores de saúde se comparadas àquelas de renda mais alta.
Todas essas possibilidades de uso da epidemiologia fornecem embasamento para a definição e o acompanhamento de políticas públicas em saúde. Como registrado na literatura científica, a epidemiologia desempenha uma dupla função: é importante para orientar a definição de políticas de saúde e é subsídio para a avaliação dessas políticas. De um lado, estudos epidemiológicos fornecem dados, como as associações entre fumo e cânceres e a repercussão da atividade física na saúde, que permitem a adoção de políticas específicas. De outro lado, políticas nutricionais, de consumo de álcool, de uso dos cintos de segurança, entre outras, encontram no conhecimento produzido pela epidemiologia elementos para avaliar o impacto gerado por elas na sociedade.
A epidemiologia desempenha uma dupla função: é importante para orientar a definição de políticas de saúde e é subsídio para a avaliação dessas políticas
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