Ambientado no Brasil do século 18, romance apresenta características e dilemas da sociedade da época e lança luz sobre questões ocultas que permanecem atuais, como a liberdade vigiada nas relações afetivas e as experiências vividas por africanos e seus descendentes.

Rio de Janeiro, 1732. O frei Alexandre Saldanha Sardinha chega à cidade encarregado pelo Santo Ofício da Inquisição da missão de fiscalizar os fiéis que aqui habitavam e investigar possíveis crimes contra a fé católica, principalmente feitiçaria e prática de judaísmo. De olho nas riquezas das Minas Gerais, inclui em sua visita uma perigosa viagem a Vila Rica (hoje Ouro Preto).

À época, a sanha da Coroa portuguesa em fiscalizar o contrabando de ouro e pedras preciosas era tão grande quanto a de monitorar corações e mentes dos colonos que viviam em terras brasileiras. A cena com a qual Saldanha Sardinha se depara no Brasil desafia qualquer tentativa de controle, não por alguma característica intrínseca à sociedade colonial, mas pelo fato de a Inquisição ter se lançado à tarefa de querer o impossível: controlar “instintos secretos e desejos inconfessáveis” de toda a gente.

Este é o pano de fundo de Nada digo de ti, que em ti não veja, novo romance de Eliana Alves Cruz. O título não deixa de ser curioso em um romance onde ninguém é quem, à primeira vista, parece ser. Nem mesmo o frei Sardinha. E não ser visto como quem se é realmente era justamente o que todos almejavam, na esperança de se colocarem a salvo de maledicências e denúncias, que, à época, poderiam custar a liberdade, o prestígio e até a vida dos denunciados.

Nada digo de ti, que em ti não veja
Eliana Alves Cruz
Pallas Editora, 2020, 200 p.

Keila Grinberg

Departamento de História
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

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