Sikiliza África! Esse é o nome de um programa de rádio que nasceu para que as sociedades africanas sejam mais ouvidas no Brasil. O nome, aliás, já sinaliza o objetivo do programa: a palavra ‘sikiliza’ quer dizer ‘escuta’ no idioma Suaíle, que é falado por várias pessoas na África Oriental e Centro-Oriental e funciona como uma língua franca na região. Até mesmo a União Africana (organização internacional que promove a integração entre os países da África) tem o Suaíle como um de seus idiomas oficiais, dada a sua importância para o continente. Portanto, o programa faz um chamado: escute África!
A ideia é que os ouvintes do Sikiliza África! possam saber mais sobre o continente, por meio das falas de pesquisadores da área de estudos africanos, sejam eles brasileiros, africanos ou de outras origens, assim como de ativistas, artistas, educadores e diferentes pessoas dos países e regiões africanas que tenham relação com o tema tratado.
Desenvolvido pelo Laboratório de Estudos Africanos (LEÁFRICA), do Instituto de História (IH) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Sikiliza África! é um programa semanal transmitido pela Rádio UFRJ. Ele também está disponível na forma de podcast em plataformas na internet. Sua equipe é formada por professores e pesquisadores da UFRJ e de outras instituições, com a coordenação da professora Raissa Brescia dos Reis, do setor de História da África do IH/UFRJ. A apresentação é do jornalista Caetano Manenti, que também é estudante de graduação em História.
Cada episódio tem, além do apresentador, um pesquisador do LEÁFRICA ou alguém convidado pela equipe do programa para introduzir o tema, formular perguntas e comentar as falas dos demais convidados. O formato permite que o programa seja dinâmico, com diversas vozes trazendo notícias e histórias do continente que é tão fundamental para a história do mundo e, em especial, do Brasil. Inserções de trechos de músicas africanas de diferentes países intermeiam eventualmente os debates, fazendo com que o ouvinte possa entrar no clima, além de ouvir artistas talentosos e pouco conhecidos no nosso país.
O programa não se limita ao continente africano. Às vezes, Sikiliza África! atravessa o oceano e trata de assuntos referentes aos diferentes aspectos da presença africana no Brasil. Um exemplo foi o episódio em que se discutiu a contribuição do movimento negro para o crescimento dos estudos africanos no nosso país. Em outro episódio, a literatura infantil africana conversou com a literatura infantil afro-brasileira, mostrando como esse diálogo é profundo e necessário.
Temas candentes e fundamentais para a vida contemporânea no continente africano e no mundo, como as homossexualidades e o ativismo LGBTQI+ na África, também marcaram presença em um episódio, com a participação de ativistas de Cabo Verde e Moçambique e de um pesquisador brasileiro com experiência na região. Outro tema atualíssimo debatido no programa foi a restituição de artefatos e objetos artísticos africanos que se encontram em museus fora do continente – alguns dos quais foram retirados em atos de rapina colonial. Muitos outros assuntos foram veiculados na programação, que é permanentemente renovada e diversificada.
Sikiliza África! nos dá a chance de escutar mais e melhor a África e de romper com visões estereotipadas que foram construídas sobre o continente e seus habitantes. Permite que vejamos para além das tragédias e da pobreza, que saibamos entender as questões por trás das notícias e histórias que trazem aspectos de tristeza e das dificuldades vividas por lá. Oferece também a oportunidade de conhecermos mais das pesquisas desenvolvidas no Brasil sobre a história, a cultura, a política, entre muitos outros aspectos da vida social nas diferentes regiões e países africanos.
Há muitas razões para apreciar o Sikiliza África!. Uma delas é que a vida e a história das pessoas desse continente foram silenciadas para nós por muito tempo, pela violência do racismo e pelo distanciamento imposto por uma visão de mundo estreita e pouco inteligente. Mas hoje temos formas de romper esse silêncio e ficar mais próximos das sociedades africanas, nossos parentes, presentes na ancestralidade de tantos brasileiros, e nossos conterrâneos neste planeta.
Para ouvir o Sikiliza África!, basta sintonizar a Rádio UFRJ na internet (https://www.radio.ufrj.br/) e escutar o programa ao vivo, às terças-feiras, às 21h, ou acessar a qualquer hora plataformas como a Listen Notes (https://cutt.ly/wkh36BV) e escolher o episódio que mais interessar.
Mônica Lima
Laboratório de Estudos Africanos (LEÁFRICA),
Instituto de História,
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Matéria publicada em 20.01.2021
Iza Lúcia Correa Veiga
Muito importante, interessante para todos nós afro brasileiros para mudança de paradigma da história contada por séculos a fora.
Publicado em 15 de fevereiro de 2021
Magda Maria Jaolino Torres
É com satisfação que saúdo mais essa importante iniciativa do Laboratório de Estudos Africanos do IH da UFRJ que cada vez mais vem contribuindo para o conhecimento e a reescritura de nossa História comum. Parabéns, muito especialmente, aos bravos colegas Mônica e Silvio pelo trabalho que inspira entusiasmo e admiração.
Publicado em 16 de fevereiro de 2021