O temível agente, cujo uso foi proibido em guerras e conflitos por seus terríveis efeitos em humanos, se tornou o primeiro medicamento para combater tumores.
O temível agente, cujo uso foi proibido em guerras e conflitos por seus terríveis efeitos em humanos, se tornou o primeiro medicamento para combater tumores.
CRÉDITO: FOTOS ADOBESTOCK
“Uma sensação de que seu corpo inteiro está em chamas” é a descrição de um soldado norte-americano, Arthur Guy Empey (1883-1963), em seu livro Over the top, de 1917, sobre seu contato com o gás mostarda, arma química usada na Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Empey complementa: “Um homem da companhia, à nossa direita, demorou muito para colocar o capacete. Ele caiu no chão, agarrando a garganta e, depois de algumas torções espasmódicas, faleceu. Foi horrível vê-lo morrer, mas não tivemos forças para ajudá-lo. No canto, um pequeno cão vira-lata enlameado, um dos animais de estimação da companhia, estava morto, com as duas patas sobre o focinho”.
O gás mostarda é uma arma química de ação vesicante, ou seja, causa bolhas dolorosas ao entrar em contato com qualquer pele. Ele pode causar cegueira e, geralmente, leva à morte nos casos de exposição prolongada, devido ao comprometimento dos pulmões (edema pulmonar).
Como a substância permanece no ambiente por muitas horas – e às vezes dias –, na maioria dos casos, os sintomas se manifestam lentamente. As vítimas de envenenamento nem sabem que foram contaminadas até horas depois. Não há antídoto para o gás mostarda. Evitá-lo – com máscaras e proteção da pele – é a única maneira de evitar os sintomas.
Embora chamado “gás”, trata-se de um líquido oleoso em temperatura ambiente. Durante a Primeira Guerra Mundial, os soldados em batalha descreveram o odor desse agente como semelhante ao da mostarda ou do alho; daí seu apelido. Seu nome oficial, porém, é bis(2-cloroetil) sulfeto, e foi produzido, pela primeira vez, em 1822, pelo químico francês César-Mansuète Despretz (1791-1863).
Algumas décadas mais tarde, o químico alemão Albert Niemann (1834-1861) estudou suas propriedades tóxicas, e, em 1886, o químico alemão Viktor Meyer (1848-1897) descreveu um método para sua produção em larga escala. Em 1913, outro químico, dessa vez o inglês Hans Thacher Clarke (1887-1972), fez uma modificação no método desenvolvido por Meyer, que tornou a fabricação do gás mostarda ainda mais fácil e rápida.
Mesmo sem querer, Clarke pode ter tido um papel fundamental para que o gás mostarda se tornasse uma arma química. Enquanto trabalhava com suas preparações, Clarke deixou um frasco quebrar, e a substância caiu em sua perna. Ele precisou ser hospitalizado por dois meses devido às queimaduras. De acordo com Meyer, o relatório para a Sociedade Química sobre esse acidente despertou o interesse dos militares do Império Alemão nas armas químicas.
Foi em 1917, durante a Primeira Guerra, que o gás mostarda ficou conhecido como uma perigosa arma química. Incrivelmente, cerca de 25 anos depois, sua utilidade foi revertida em prol da saúde humana: o gás mostarda e seus derivados acabaram se tornando a primeira droga para quimioterapia do câncer.
O termo quimioterapia está associado, hoje, a tratamentos para o câncer. Entretanto, a quimioterapia é um método terapêutico que usa substâncias químicas para atacar diversas afecções, como câncer, doenças infecciosas, entre outras. Pode parecer um contrassenso, mas esse mesmo temível gás, cujo uso foi proibido em guerras e conflitos e que tem efeitos debilitantes em humanos, acabou se tornando o primeiro medicamento para combater o câncer. Pior: o gás mostarda é considerado um potente carcinógeno (agente causador de câncer)!
A história que levou à transformação desse agente de terror a uma droga que até hoje salva vidas teve início logo após o final da Primeira Guerra. Autópsias e exames de milhares de soldados expostos ao gás mostarda mostraram algo inesperado. Além das bolhas na pele e da destruição pulmonar, eles apresentavam leucopenia – diminuição na contagem normal de células brancas do sistema imune (leucócitos), causada, geralmente, por danos na medula óssea, que é a responsável por produzir as células sanguíneas.
Autópsias e exames de milhares de soldados expostos ao gás mostarda mostraram algo inesperado. Além das bolhas na pele e da destruição pulmonar, eles apresentavam leucopenia – diminuição na contagem normal de células brancas do sistema imune (leucócitos), causada, geralmente, por danos na medula óssea, que é a responsável por produzir as células sanguíneas
Apesar de importante, essa informação não recebeu a devida atenção na época. Entretanto, 20 anos mais tarde, foi a chave para o desenvolvimento desse inovador tratamento para o câncer.
A partir de 1920, logo após o pós-guerra, as nações desenvolvidas estabeleceram divisões de pesquisa médica voltadas para o estudo de armas químicas. O principal foco era, obviamente, o desenvolvimento de armas e contramedidas de proteção.
Essas divisões aprofundaram o conhecimento sobre concentrações letais e subletais dos agentes químicos e desenvolveram pomadas protetoras. Além disso, esses grupos estabeleceram protocolos de tratamento das vítimas e avaliaram o efeito da exposição a vários agentes de guerra química, tanto em testes em animais como em voluntários humanos. Mas, nessas pesquisas iniciais, quase nenhum progresso foi feito em relação ao tratamento do câncer.
Em 1942, os Estados Unidos entraram na Segunda Grande Guerra e, temendo que armas químicas fossem novamente utilizadas, o governo norte-americano pediu que instituições de pesquisa do país inteiro estudassem agentes de guerra química.
Na Universidade Yale, um novo departamento de farmacologia havia sido criado, e dois jovens professores, em busca de financiamento para pesquisa, decidiram estudar os efeitos dos agentes mostarda (o gás mostarda e suas variantes) no linfoma, um tipo de câncer que acomete a medula óssea e o tecido linfático.
Louis S. Goodman (1906-2000) e Alfred Gilman (1908-1984) se inspiraram nos relatos acerca da leucopenia causada pelo gás mostarda usado na Primeira Guerra e decidiram testar os efeitos da mostarda nitrogenada (uma variante do gás mostarda em que o enxofre é substituído por nitrogênio) em linfomas de animais de laboratório, como camundongos e coelhos.
Os resultados foram tão promissores que imediatamente um ensaio clínico em humanos foi iniciado. O primeiro paciente no mundo a ser tratado por quimioterapia foi um homem de 48 anos em estágio terminal de linfossarcoma. Em apenas dois dias de tratamento, seus tumores regrediram, e desapareceram por completo ao final do tratamento.
Mais tarde, o paciente teve uma recaída, e tratamentos subsequentes se mostraram menos eficientes. Mas esse resultado pavimentou o caminho para novos ensaios clínicos e estimulou cientistas do mundo inteiro a modificarem a molécula de gás mostarda para se tornar mais eficaz e apta ao uso quimioterápico.
Esse resultado pavimentou o caminho para novos ensaios clínicos e estimulou cientistas do mundo inteiro a modificarem a molécula de gás mostarda para se tornar mais eficaz e apta ao uso quimioterápico
O gás mostarda acabou dando origem a uma série de compostos químicos chamados agentes alquilantes, que matam células cancerígenas de rápido crescimento ao danificar seu DNA. Esses agentes foram a primeira medicação para câncer e permitiram o tratamento de tumores que não podiam ser removidos cirurgicamente e que não respondiam ao tratamento com radiação.
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