O teatro e a ciência dialogam desde os primórdios. Na Grécia Antiga, a busca (e as disputas) pelo conhecimento já alimentavam as emergentes artes cênicas. A tragédia Prometeu Acorrentado, do dramaturgo grego Ésquilo (c. 525 a.C. – c. 455 a.C.) – que narra a punição de Zeus a Prometeu, por este último roubar o fogo dos deuses e entregá-lo aos humanos – exemplifica a longevidade desse diálogo.
Clássicos de outros momentos históricos, como Doutor Fausto (1592), do escritor britânico Christopher Marlowe (1564-1593), e Vida de Galileu (1939, a primeira versão), do alemão Bertolt Brecht (1898-1956), integram longas listas de obras teatrais que exploram facetas do conhecimento científico, oferecendo evidências de que a ciência inspira dramaturgos há séculos.
Mas, no livro Science on Stage (2006), Kirsten Shepherd-Barr, da área de estudos teatrais da Universidade de Oxford (Reino Unido), afirma que uma peça em particular, encenada pela primeira vez em 1998 no Reino Unido, marcou um recente boom de interesse na interface teatro-ciência: Copenhagen.
Escrita pelo dramaturgo britânico Michael Frayn, essa obra retrata um encontro entre o físico dinamarquês Niels Bohr (1885-1962) e o físico alemão Werner Heisenberg (1901-1976), em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, abordando o contexto político e científico da época.
Sucesso de crítica e público, Copenhagen foi adaptada em vários países, incluindo o Brasil, onde foi apresentada, em 2001, na Casa da Ciência, no Rio de Janeiro (RJ). O espetáculo foi o terceiro montado pelo núcleo Arte e Ciência no Palco (ACP), que, desde 1998, produz peças com motes científicos. A mais recente, Prometeu Despedaçado, parte do mito grego de Prometeu para discutir a fragmentação do conhecimento na contemporaneidade.
A divulgação científica – que já vinha se aproximando das artes na busca por novas formas de conectar ciência e sociedade – pegou carona no entusiasmo em torno das interações entre as artes cênicas e o campo científico. A partir da década de 2000, multiplicaram-se as iniciativas unindo teatro e ciência com o intuito de divulgar o conhecimento científico em diversos países, lugares e formatos. Elas passaram a ter presença marcante em eventos da área, além de ocupar espaço crescente em museus e festivais de ciência.
No Brasil, além do ACP, outros núcleos, projetos e espaços têm investido na interface teatro-ciência, com destaque para museus e centros de ciência, bem como grupos universitários. Formados sobretudo por estudantes de ciências exatas e naturais, esses grupos se reúnem anualmente no ‘Festival Ciência em Cena’, criado, em 2007, por iniciativa do Núcleo Ouroboros de Divulgação Científica, projeto de extensão da Universidade Federal de São Carlos (SP).
Em sua edição do ano passado, em Itajubá (MG), o festival reuniu 148 participantes, de nove grupos de teatro, que apresentaram 13 espetáculos, vistos por 1.360 alunos da rede de ensino local.
Apesar de prática cada vez mais pungente, o teatro no contexto da divulgação científica ainda é raro como objeto de pesquisa acadêmica. Por isso, faltam dados sistematizados sobre que formatos ele usa, que espaços ocupa, quem participa de sua produção, quais são suas motivações e seus objetivos, que públicos alcança e como contribui para a divulgação científica.