Práticas como a pesca excessiva ou a fantasma impactam diretamente a sustentabilidade e o bem-estar dos animais aquáticos. É urgente identificar como reduzir o sofrimento desses animais no processo de captura.
A demanda global por alimentos está aumentando, seja pelo crescimento da população humana, pela mudança de hábitos ou para suprir necessidades, como a desnutrição e a fome. Aumentar a produção de alimentos no continente é possível, mas pode comprometer diversos serviços ecossistêmicos, como a biodiversidade, além de ser desafiador em um contexto de mudanças climáticas.
Uma alternativa é olhar para a água doce e salgada. Além de proteínas, os animais aquáticos contêm nutrientes essenciais e, por isso, são vistos como fontes de alimento que contribuem para a segurança alimentar global. Mas, antes de pensarmos na sociedade humana, vamos olhar para os organismos aquáticos, sejam eles peixes ou não.
Animais aquáticos produzidos para o consumo humano – o famoso ‘pescado’ – vêm da pesca e da aquicultura (produção de animais aquáticos em fazendas em mar aberto, rios, lagos, reservatórios, ou viveiros em terra firme). Por ser um país tropical, com extenso litoral, e banhado por grandes rios e lagos, o Brasil explora amplamente a produção de peixes e de outros organismos aquáticos.
Em 2023, a piscicultura (produção de peixes em fazendas) produziu mais de 887 mil toneladas no Brasil, segundo o Anuário da Associação Brasileira da Piscicultura. Em âmbito internacional, segundo o último relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), de 2024, pela primeira vez, a aquicultura superou a pesca em produção de animais aquáticos, atingindo mais de 94 milhões de toneladas em 2022.
Mesmo assim, a captura pesqueira continua sendo uma fonte importante de produção de pescado no mundo, tendo contribuído com 91 milhões de toneladas de animais aquáticos em 2022, dos quais quase 80 milhões foram capturados em áreas marinhas, enquanto pouco mais de 11 milhões foram pescados em águas interiores.
A captura pesqueira continua sendo uma fonte importante de produção de pescado no mundo, tendo contribuído com 91 milhões de toneladas de animais aquáticos em 2022, dos quais quase 80 milhões foram capturados em áreas marinhas, enquanto pouco mais de 11 milhões foram pescados em águas interiores
Ao contrário da produção de bovinos, suínos e frangos, em que uma mesma espécie é consumida em grande quantidade, o pescado é composto por centenas de espécies diferentes, com comportamentos e necessidades particulares. Grande parte dessas espécies é pouco estudada, o que dificulta uma boa avaliação e proposição de melhorias de bem-estar animal.
Práticas como a sobrepesca – pesca excessiva e insustentável –, ou a pesca fantasma – que ocorre por equipamentos pesqueiros perdidos, abandonados ou descartados no mar que continuam ‘capturando animais’ – impactam a sustentabilidade e o bem-estar dos animais pescados.
A pesca fantasma contribui, inclusive, para o problema dos microplásticos na água, pois os apetrechos que permanecem no mar ou em outros corpos d’água são feitos de materiais que incluem o plástico. O uso de métodos de pesca pouco seletivos, que culminam com uma grande quantidade de captura acidental (bycatch), como a pesca de arrasto, também trazem prejuízos ao ambiente. Os animais capturados acidentalmente (que não são o foco da pescaria) acabam descartados na água quando já estão mortos ou moribundos.
Os mais diversos métodos de pesca (de cerco, com redes de espera, com potes e armadilhas etc.) também trazem riscos ao bem-estar dos animais capturados. Segundo a 3ª edição do relatório anual do Instituto Aquatic Life, centro internacional de defesa dos organismos aquáticos, estes podem sofrer nas etapas de captura e retirada da água, passando pelo manejo e estocagem a bordo, e durante o abate.
A fair-fish database, plataforma de acesso aberto que fornece perfis sobre o bem-estar de espécies aquáticas produzidas ou pescadas, aponta que, na pesca, os animais podem sofrer já na prospecção (busca ativa das espécies-alvo da pescaria com sonares e outros equipamentos).
Embora a produção de animais aquáticos em fazendas seja considerada uma boa alternativa para aumentar a produção do pescado, ela também tem impactos ambientais. Quando os peixes são criados em tanques-rede (‘gaiolas’ aquáticas flutuantes), o excesso de ração que escapa desses tanques acaba caindo no corpo d’água, junto com as fezes dos animais.
Além de gerar um excesso de nutrientes no ambiente, causando eutrofização (nutrientes demais, que estimulam o surgimento de algas e cianobactérias, reduzindo o oxigênio na água e causando a morte de várias espécies), esse processo ameaça a segurança alimentar e acelera o surgimento das superbactérias pelo uso excessivo de antibióticos na ração. Como os peixes são mantidos em superlotações diferentes das naturais, ficam estressados e adoecem facilmente. Para evitar doenças e mortes, os produtores costumam usar antibióticos em excesso.
Na aquicultura, também podem ocorrer escapes de espécies não nativas (exóticas), em sistemas de produção em mar aberto ou em rios, pela falta de manutenção adequada dos tanques-rede. Esses escapes podem prejudicar o equilíbrio do ecossistema local, sobretudo se forem espécies mais resistentes, carnívoras e ‘agressivas’, impactando outras espécies.
O bem-estar dos animais é outro problema na aquicultura, como baixa qualidade de água, alimentação inadequada, falta de espaço, superlotações, ambientes monótonos com falta de estimulação apropriada e processos de abate inadequados.
Embora já existam iniciativas em prol da sustentabilidade e do bem-estar dos animais aquáticos produzidos nas fazendas, muito ainda precisa ser feito. Na pesca, o cenário é ainda pior. Além dos relatórios e de outros recursos providos pelo Instituto Aquatic Life, o projeto Carefish/catch é uma iniciativa pioneira que busca avaliar os impactos da pesca no bem-estar animal, identificando formas de reduzir o sofrimento dos animais capturados.
Relatórios desse projeto apontam medidas para minimizar o sofrimento dos animais pescados. Na pesca de cerco, por exemplo, rebocar os peixes de forma rápida e não muito severa ajuda a reduzir estresse por superlotação, trauma por compressão, ferimentos, e até a asfixia dos animais. Já na pescaria com redes de espera, reduzir a duração do processo – que pode levar desde algumas horas até dias – ajuda a minimizar estresse, dor, ferimentos, morte por predação, sufocamento e exaustão dos animais.
No Brasil, ainda não há dados oficiais publicados relacionados à pesca. Desconhecemos quanto se pesca, quais espécies são mais pescadas, como é a distribuição por região etc. Iniciativas como o Observatório do Peixe, da Alianima, organização em prol do bem-estar dos animais de produção, têm ajudado a suprir lacunas, como o recente documento que aborda aspectos de bem-estar animal e impactos ambientais tanto na piscicultura quanto na pesca.
*A coluna Cultura Oceânica é uma parceria do Instituto Ciência Hoje com a Cátedra UNESCO para a Sustentabilidade do Oceano da Universidade de São Paulo e com o Projeto Ressoa Oceano, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
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