Quando os cientistas descobriram os dinossauros

Instituto de Microbiologia Paulo de Góes
Universidade Federal do Rio de Janeiro

Figurinhas carimbadas hoje em desenhos infantis e filmes de Hollywood, esses animais fossilizados e extintos eram conhecidos de povos indígenas das Américas, Ásia e Oceania, mas só foram descritos pela ciência moderna no século 19

CRÉDITO: IMAGENS WIKIMEDIA COMMONS

Todos conhecemos os famosos dinossauros como o Tyranossaurus rex ou o Triceratops e Brontossaurus; afinal, esses dinossauros aparecem na mídia o tempo todo, são figurinhas carimbadas em desenhos infantis e filmes de Hollywood. Mas os fósseis coletados por cientistas no mundo nos dão informações sobre pelo menos mil espécies distintas de dinossauros, além de centenas de outras espécies ainda em processo de descrição. 

Tais espécies já receberam nomes engraçados e exóticos, como o Bambiraptor, Pintossaurus, Gojirassaurus e o Minotaurasaurus. Mas, de onde vem o nome dos dinossauros? 

Existe certo debate acerca do primeiro fóssil descoberto na era moderna. Em 1677, um naturalista britânico chamado Robert Plot (1640-1696) encontrou, descreveu e fez uma ilustração de um osso fossilizado do que parece ter sido um dinossauro do gênero Megalosaurus

Sem conhecer o que eram os dinossauros – porque ainda não haviam sido descritos formalmente –, o próprio Plot atribuiu esse osso a algum tipo de humano gigante ancestral. Infelizmente, esse osso desapareceu, e não temos como confirmar se, de fato, era um fóssil de dinossauro. 

A primeira descrição

Durante séculos, cientistas, naturalistas e curiosos encontraram e colecionaram ossos e fósseis antigos, e até dinossauros. Mas foi só em 1824 que William Buckland (1784-1856), um naturalista e professor de geologia da Universidade de Oxford (Inglaterra), obteve alguns fósseis – provavelmente, comprados de um colecionador amador – e publicou, em uma revista científica, a descrição de um dinossauro que, por acaso, era o Megalosaurus, o mesmo supostamente encontrado por Robert Plot cerca de 150 anos antes. 

O Megalosaurus teria sido um lagarto carnívoro gigante, já extinto. Sir William Buckland não fazia ideia do que era um dinossauro. De fato, ele tem o crédito de ter descrito o primeiro dinossauro, mesmo antes de saber o que eram esses animais, ou até mesmo e do nome ‘dinossauro’ ter sido criado!

Sir William Buckland não fazia ideia do que era um dinossauro. De fato, ele tem o crédito de ter descrito o primeiro dinossauro, mesmo antes de saber o que eram esses animais, ou até mesmo e do nome ‘dinossauro’ ter sido criado!

Buckland era um cientista muito respeitado na sua época, e chegou a ser presidente da Sociedade Britânica de Geologia. Mas era considerado uma pessoa muito exótica e de hábitos estranhos. Seu biógrafo conta que ele tinha uma curiosidade bizarra sobre o sabor dos diferentes animais e, por isso, ele e seu filho Frank Buckland, experimentaram todos os tipos de animais que puderam. Eles comeram panteras e tigres, rinocerontes, elefantes, lesmas, moscas-varejeiras, morcegos, cobras, macacos, entre outros. Se tivesse encontrado um dinossauro vivo, ele provavelmente teria experimentado também!

Ossos gigantes

Logo após Buckland publicar seus achados, o geólogo britânico Gideon Mantell (1790-1852) descobriu novos ossos fossilizados de dinossauros. Pelo menos, foi ele que descreveu e ficou com o crédito, mas quem os descobriu mesmo foi sua esposa Mary Ann Mantell (1795-1869), quando fazia uma caminhada. Ela não apenas auxiliou seu marido na busca por fósseis, como também foi sua ilustradora, fazendo desenhos detalhados das peças encontradas e sendo fundamental para a descrição do segundo dinossauro na história, o Iguanodon

Mantell escolheu esse nome porque seu espécime parecia uma iguana gigante. Em 1833, alguns anos após sua descoberta inicial, Mantell descreveu ainda o Hylaeosaurus, o terceiro dinossauro com uma descrição científica. 

Por fim, é impossível deixar de mencionar o papel da inglesa Mary Anning (1799-1847) no desenvolvimento da paleontologia moderna. O pai de Mary Anning era um colecionador amador de fósseis, e lhe ensinou como identificar e limpar fósseis que encontrava em Lyme Regis, uma região praiana no sudoeste da Inglaterra. 

Mary adorava acompanhar o pai em expedições de busca por fósseis e, apesar de ter pouca educação formal – como era costume em mulheres da época –, aprendeu sozinha sobre anatomia e geologia. Quando seu pai faleceu subitamente em 1810, a mãe de Mary a encorajou a vender seus achados a colecionadores, ajudando no sustento da família. 

Mary fez muitas descobertas importantes. Em 1811, com apenas 12 anos de idade, encontrou um esqueleto de Ichthyosaurus, réptil marinho já extinto que muitos achavam se tratar de um monstro. Em 1823, ela descobriu um esqueleto completo de outro réptil marinho, um Pleisiosaurus e, em 1828, o primeiro fóssil de pterodáctilo na Inglaterra. 

Foi só em 1842 que Richard Owen (1804-1892), grande biólogo e paleontólogo britânico, publicou o primeiro relato sobre esses répteis e criou o termo ‘dinosauria’, que significa ‘réptil terrível’ ou ‘réptil terrivelmente grande’ – do grego, deinos = terrível, poderoso, maravilhoso, e sauros = lagarto. Ele examinou os fósseis que estavam sendo encontrados no sul da Inglaterra – em particular, o Megalossaurus, o Iguanodon e o Hylaeosaurus – e determinou que não se tratava de lagartos modernos que haviam sido extintos, mas sim de uma nova ordem de répteis.

Foi só em 1942 que Richard Owen (1804-1892), grande biólogo e paleontólogo britânico, publicou o primeiro relato sobre esses répteis e criou o termo ‘dinosauria’, que significa ‘réptil terrível’ ou ‘réptil terrivelmente grande’ – do grego, deinos = terrível, poderoso, maravilhoso, e sauros = lagarto

Owen foi um cientista muito importante e participou ativamente do debate sobre a teoria da evolução de Darwin (ele era um ferrenho opositor de Darwin!). Além disso, produziu muitos trabalhos científicos, mas hoje ele é, sem dúvida, mais lembrado por criar a palavra ‘dinossauro’ (ou dinosauria).

Toda essa conversa se refere a fósseis descobertos por cientistas ocidentais na era moderna. Sabemos, porém, que humanos já encontravam e escavavam fósseis há centenas, talvez, milhares de anos.  

Um estudo recente, publicado pela Sociedade Real de Geologia, compilou uma série de achados paleontológicos em sítios na África que eram conhecidos por habitantes locais muito antes da ciência da paleontologia ser formalmente criada. O mesmo artigo destaca que fósseis do dinossauro Massospondylus carinatus, um herbívoro de cerca de 4 m a 6 m de comprimento, já haviam sido encontrados e transportados para outros locais 500 anos antes da descoberta do osso de Megalossauro pelo inglês Robert Plot. 

Também existem registros históricos de fósseis e pegadas de dinossauros preservadas encontrados originalmente por diversos povos indígenas das Américas, Ásia e Oceania. É bastante comum que fósseis escavados e apresentados à comunidade científica por cientistas ocidentais tenham sido, de fato, indicados por guias locais que já os conheciam há muito tempo. 

O gigantesco dinossauro Jobaria , por exemplo, considerado um dos mais bem preservados espécimes de dinossauro já encontrados, foi formalmente descoberto por um paleontologista norte-americano, mas era muito conhecido por tribos de tuaregues, no Níger, que o consideravam um gigante mitológico. Foram esses tuaregues que direcionaram a equipe norte-americana ao espécime.

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