Para não afundar

O transporte marítimo é responsável pela movimentação de 80% das cargas do comércio mundial e precisa reduzir drasticamente a emissão de poluentes para evitar comprometer o futuro da Terra

A humanidade sempre se beneficiou de bens e serviços provenientes do ambiente marinho, sobretudo como fonte de alimentos e via de transporte para o deslocamento de pessoas e mercadorias. Com o desenvolvimento do conhecimento científico e tecnológico, a lista de benefícios se ampliou, e o oceano ganhou importância como fonte de energia, biodiversidade, lazer e turismo, regulação do clima etc. Mas, por sua grandeza, o papel do oceano como via de transporte se destaca.

Atualmente, o transporte marítimo é responsável pela movimentação de aproximadamente 80% de todas as cargas do comércio mundial, o que torna inimaginável o funcionamento da economia contemporânea sem a existência do transporte marítimo. Para realizar essa grande movimentação existe uma frota mundial de aproximadamente 100 mil embarcações, que realizam viagens costeiras, de longo curso ou de cabotagem, carregando desde alimentos até carros, passando por roupas, calçados, itens de tecnologia e toda a sorte de mercadorias.

Anualmente, a frota marítima mundial movimenta, em média, 11 bilhões de toneladas de carga, ao valor aproximado de14 trilhões de dólares – para se ter uma ideia, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro é de cerca de 1,6 trilhões de dólares. Em média, cada tonelada de carga transportada percorre 10 mil quilômetros sobre a superfície do oceano – lembrando que a extensão total da costa brasileira é de aproximadamente 8 mil quilômetros. Esses números mostram a importância e o tamanho, em termos físicos e econômicos, que a indústria do transporte marítimo representa para as atividades econômicas mundiais.

 

A contrapartida

Toda essa movimentação ocorre com altos custos, principalmente ambiental. As três principais formas de poluição decorrentes das atividades do transporte marítimo são: poluição das águas pelo descarte de água de lastro, lixo e resíduos da lavagem de tanques de navios; vazamento de cargas e combustíveis; e poluição atmosférica decorrente da emissão de gases e particulados, com a queima do combustível pelos motores.

A regulamentação do transporte marítimo mundial é realizada pela Organização Marítima Internacional (OMI), órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) que busca estabelecer normas ligadas a segurança, proteção e prevenção da poluição do mar e do ar pelos navios. Uma das maiores preocupações dessa entidade é com os gases emitidos pela queima dos combustíveis, pois, até hoje, a maior parte das embarcações usa óleo de baixa qualidade que, ao ser queimado, produz diversos tipos de poluentes, principalmente o gás carbônico (CO2), que contribui para o efeito estufa.

Para atender os objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU, a OMI estabeleceu ambiciosas metas para a redução da emissão dos Gases do Efeito Estufa (GEE) pelos navios. Até 2030, a meta é reduzir as emissões de CO2 em 40%, na comparação com 2008. Para 2050, a redução precisa chegar a 70%.

 

O que fazer?

Entre as medidas para reduzir a emissão de poluentes pelo transporte marítimo estão: melhorar a composição do óleo combustível; usar combustíveis alternativos; modificar o projeto dos cascos dos navios para diminuir a força que a água e as ondas produzem contra a embarcação; usar propulsão auxiliar, como as velas rígidas e velas rotativas; reduzir a velocidade operacional dos navios para diminuir o consumo de combustível; planejar rotas melhores, para evitar locais onde o mar bravio aumenta o consumo de combustível; e realizar manutenção e limpeza mais frequente do casco e dos propulsores, para reduzir a formação das incrustações que produzem aumento na força que a água exerce sobre o navio.

Mas o fato é que, atualmente, nenhuma dessas medidas apresenta desempenho suficiente para, sozinha, produzir as reduções propostas pela OMI de emissões dos GEE e demais poluentes. Na prática, a descarbonização do transporte marítimo depende da combinação simultânea de várias delas nos próximos anos.

Bernardo Andrade
Departamento de Engenharia Naval e Oceânica
Escola Politécnica
Universidade de São Paulo

TássiaBiazon
Cátedra UNESCO para Sustentabilidade do Oceano
Universidade de São Paulo

*A coluna Cultura Oceânica é uma parceria do Instituto Ciência Hoje com a Cátedra UNESCO para a Sustentabilidade do Oceano da Universidade de São Paulo.

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