Pesquisa translacional: o que é isso?

Ciência que busca aproximar o conhecimento biomédico básico e o desenvolvimento de produtos inovadores na área da saúde tem crescimento expressivo em todo o mundo.

Pesquisa translacional, medicina translacional, ciência translacional. Esses termos são usados para se referir a uma mesma área da ciência, que vem experimentando crescimento expressivo em todo o mundo. Essa área é voltada para estabelecer a conexão entre a pesquisa biomédica básica e a inovação em saúde, de modo a gerar produtos – como vacinas e fármacos –, serviços e políticas que possam beneficiar a população.

O debate em torno da necessidade de se construir essa ponte entre o conhecimento científico básico e o desenvolvimento de produtos e processos inovadores ganhou força após o Projeto Genoma Humano. Lançado em 1º de outubro de 1990, o projeto prometia uma “revolução genética na medicina”, conforme apontou Francis S. Collins em artigo publicado em julho de 1999 no periódico New England Journal of Medicine. O projeto teve seu sucesso anunciado em 26 de junho de 2000 pelo então presidente norte-americano Bill Clinton. Em 2001, gerou um ‘rascunho’ da sequência de nucleotídeos (conjuntos de moléculas) que formam o DNA humano, e foi concluído em 2003, dois anos antes do prazo. Pelos recursos financeiros e humanos envolvidos, é reconhecido como o primeiro projeto Big Science (nome usado para designar grandes projetos colaborativos) das ciências biomédicas.


Cruzar o “vale da morte”, esse hiato entre a bancada dos laboratórios e o leito dos pacientes, tornou-se o desafio paradigmático da pesquisa translacional em todas as suas múltiplas fases

O alto custo do Projeto Genoma Humano e a não concretização de promessas dessa anunciada ‘revolução’ – como a geração de novas intervenções eficazes em saúde – levaram a críticas que reverberam até hoje, entre elas, o questionamento sobre a gastança de recursos em pesquisa básica sem resultados práticos e sobre onde estariam os remédios milagrosos prometidos. Em reação a essas críticas, os Institutos Nacionais de Saúde (NIH), dos EUA, que estavam entre os financiadores do projeto, passaram a adotar um novo roteiro de trabalho, priorizando “ciência translacional e clínica”.

Até então, esse debate estava restrito a agências de fomento e academia. Mas um articulista da Nature, Declan Butler, publicou dois artigos que mostraram ao grande público a ‘falha’ do Projeto Genoma Humano em não cumprir sua promessa. Com títulos de impacto – ‘Perdido na tradução’ e ‘Pesquisa translacional: cruzando o vale da morte’ – e ilustrações atraentes, os artigos colocaram no nosso imaginário o hiato entre a pesquisa básica e o pronto acesso dos pacientes a novos produtos (fármacos, vacinas, diagnósticos etc). Cruzar o “vale da morte”, esse hiato entre a bancada dos laboratórios e o leito dos pacientes, tornou-se o desafio paradigmático da pesquisa translacional em todas as suas múltiplas fases.

Muitas iniciativas abraçaram essa diretriz: a de adotar políticas e práticas para ir além da descoberta. Em 2009, por exemplo, foi lançada a revista científica Science Translational Medicine. Em 2011, os NIH inauguraram o National Center for Advancing Translational Sciences, articulando diversos institutos atuantes nessa área. Em 2013, foi apresentada na Europa a European Infrastructure for Translational Medicine (EATRIS), que congrega hoje mais de 80 instituições ativas na área.

No Brasil, são poucos os textos sobre esse tema e sua relevância para o nosso país. Merece destaque o instigante artigo de Reinaldo Guimarães ‘Pesquisa translacional: uma interpretação’, publicado em junho de 2013 na revista Ciência & Saúde Coletiva. Por isso, a partir desta edição, a pesquisa translacional terá espaço garantido nesta nova coluna da Ciência Hoje, publicada em parceria com o Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS) da Fundação Oswaldo Cruz. E, para começar, uma provocação: tem um nome melhor que ‘pesquisa translacional’ para essa área? Escreva para a redação!


E, para começar, uma provocação: tem um nome melhor que ‘pesquisa translacional’ para essa área? Escreva para a redação

Carlos Medicis Morel

Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS),
Fundação Oswaldo Cruz

Comentário (1)

  1. Rosângela Oliveira Cruz Pimenta

    Um nome possível para esta área seria também “Ciência Aplicada” ou “Pesquisa Aplicada”.

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