Quando a universidade olha para a escola e entende que enfrentam problemas muito parecidos e que são interdependentes, um elo importante se cria. Algo muito bom começa a florescer. Foi dessa colaboração que nasceu a proposta de criação do Atlas Escolar do Município de Mesquita, na Baixada Fluminense.
O material é uma demonstração prática de que universidade e escola, ainda mais nos tempos atuais, devem estar cada vez mais unidas, articuladas, porque é por meio dessa conexão que a ciência encontra o caminho mais curto para chegar até a sociedade.
Nessa relação harmônica, a universidade tem muito a aprender, pois, no contato com a escola, consegue enxergar onde estão as demandas da sociedade, na escala do lugar. E a escola também tem muito a ganhar porque é, em colaboração com a universidade, que mergulha profundamente na compreensão dos problemas e enxerga muito mais do que apenas a ponta emersa do iceberg.
Os mapas e outras representações gráficas são muito importantes para geografia, pois toda vez que precisamos compreender o comportamento de fenômenos que ocorrem sobre a superfície terrestre ou, até mesmo a razão que justifica a localização de algum objeto sobre a Terra, precisamos fazer uso das representações cartográficas.
Mapas, cartas, imagens de satélite, croquis e outros vários recursos da cartografia oferecem a possibilidade de analisar eventos em diferentes escalas, temporalidades e, também, complexidades. Sob essa perspectiva, os atlas, que podem ser entendidos como conjuntos de mapas para fins específicos, crescem em importância.
Muitos fenômenos são mais bem compreendidos quando aproximados à realidade dos estudantes, e os livros e atlas, em geral, não têm condições de realizar essas aproximações, principalmente no Brasil, que tem dimensões continentais.
Além disso, ninguém melhor que os professores e as professoras para entender a realidade da escola e de seus alunos e alunas. São eles que no dia a dia escutam as narrativas, os problemas e a dificuldades da comunidade no entorno da escola. Os docentes são verdadeira ponte entre o que se deve aprender numa perspectiva local, para alcançarmos uma melhor compreensão das questões globais.
Por isso a iniciativa de criação de um atlas participativo, no qual os professores da rede municipal escolheram os temas a serem tratados, as escalas de abordagem, os recortes espaciais representados e as estratégias de abordagem dos conteúdos, deu tão certo em Mesquita, na Baixada Fluminense, no Estado do Rio.
As sugestões dos professores também criaram uma maior diversidade de temas, proporcionando uma ótima possibilidade de abordagem da geografia numa perspectiva local e de vivência.
A concepção da estrutura do atlas se deu ao longo de reuniões mensais, durante um ano, entre professores da rede municipal e docentes e alunos da Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), com apoio também do CAC (Centro de Atividades Comunitárias de São João de Meriti). A elaboração do projeto gráfico e finalização do atlas teve sua conclusão nos meses iniciais de 2020, antes da pandemia.
Todos os mapas foram construídos com dados adquiridos de forma gratuita, disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pelo software Google Earth Pro.
Os alunos de graduação, que participaram da iniciativa de forma voluntária, tiveram a oportunidade enriquecedora de discutir os desafios do ensino de geografia com profissionais com experiência em sala de aula.
Esse trabalho colaborativo resultou em menções honrosas e premiações, como a recebida na IV Jornada de Geotecnologias do Estado do Rio de Janeiro.
A boa noticia é que já está prevista uma nova fase do projeto, com uma nova edição do atlas, que, desta vez, contará também com a participação dos professores de história. Já existe a possibilidade de criação de uma Atlas Histórico-Geográfico de Mesquita.
O atlas foi encontra-se disponível para download gratuito no site do Grupo Dinâmicas Ambientais e Geoprocessamento da Faculdade e Formação de Professores da Uerj.
Vinícius da Silva Seabra e João Bodê
Faculdade de Formação de Professores
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
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