Aproximar pesquisadores e gestores na definição de projetos de pesquisa e democratizar o processo de decisão são medidas que podem contribuir para melhorar a gestão de organizações de saúde
CRÉDITO: FOTO ADOBE STOCK
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Gerir serviços de saúde requer, entre outras coisas, o acesso a informações válidas e confiáveis e a capacidade de análise crítica da realidade. Nesse sentido, o conhecimento científico, construído com base em processos rigorosos de validação, pode ajudar os gestores da saúde a desempenhar suas funções.
No entanto, há muitos fatores que dificultam a utilização do conhecimento para a gestão. Curiosamente, entre esses fatores situam-se características das organizações de saúde e das instituições científicas.
Começando pelas organizações de saúde, que obstáculos se interpõem ao uso do conhecimento?
As organizações de saúde têm objetivos múltiplos e, às vezes, contraditórios, que vão desde a promoção da saúde da comunidade até a qualificação de sua força de trabalho, passando pela prestação de cuidados aos doentes e pela aquisição de recursos suficientes para sua manutenção. Mobilizam as atenções de uma ampla gama de agentes com interesses diversos e, eventualmente, divergentes: usuários, profissionais, representantes comerciais, agentes políticos, operadores do direito, jornalistas etc. E dependem do trabalho de profissionais que dispõem de um elevado grau de autonomia. Essa autonomia é, por um lado, essencial para o bom desempenho da organização de saúde, mas, por outro, desafia os gestores, impondo limites estreitos à sua autoridade.
Objetivos múltiplos, agentes diversos e interesses divergentes em um contexto dominado por profissionais mais atentos à sua autonomia do que às regras institucionais levam ao desenvolvimento de distintas racionalidades no interior da organização. À racionalidade técnica, associada ao conhecimento científico, se opõe, notadamente, a racionalidade política, que se refere às relações de poder entre os diversos agentes.
Não apenas as organizações de saúde, mas também as instituições científicas criam obstáculos ao uso do conhecimento.
Nem sempre os pesquisadores dão atenção aos problemas de interesse da gestão. Nessa situação, o conhecimento necessário ao gestor pode não estar disponível. Outras vezes, o conhecimento existe, mas é inacessível ao gestor, dado que divulgado apenas em publicações herméticas. Muitos resultados de pesquisa, fruto de experimentos controlados, são inaplicáveis em situações reais. Acrescente-se que os mecanismos de avanço na carreira científica não valorizam especialmente a relevância social da pesquisa.
Frente a essas dificuldades, a tradução do conhecimento surge como conjunto de estratégias para ampliar o uso de resultados de pesquisa e fortalecer a racionalidade técnica da gestão. Em que consiste esse conjunto de estratégias?
Em geral, a tradução do conhecimento se refere ao processo de síntese, disseminação, intercâmbio e aplicação do conhecimento, por meio da interação entre pesquisadores e interessados nos resultados de pesquisa, conforme definição bastante difundida do Instituto Canadense de Pesquisa em Saúde.
Especificamente, a estratégia mais efetiva de tradução reside na aproximação entre o potencial usuário da pesquisa e o pesquisador. Para começar, os gestores devem participar da definição das prioridades de pesquisa. Em seguida, gestores e pesquisadores podem conceber colaborativamente os projetos de pesquisa, de modo que a pergunta de investigação seja formulada de acordo com a necessidade de conhecimento da gestão. Além disso, devem-se multiplicar os canais de comunicação capazes de levar os resultados das pesquisas ao seu potencial usuário.
Uma segunda estratégia refere-se à disponibilização, para os gestores especificamente, de sínteses de pesquisa com diretrizes práticas. Nessa linha, são interessantes os fóruns e simpósios que reúnem pesquisadores e usuários de pesquisa para debater evidências e sua aplicação.
Uma terceira estratégia é a divulgação ampla do conhecimento científico existente, recorrendo-se aos meios de comunicação de massa e às mídias sociais. O que chama a atenção do público em geral desperta a atenção do gestor.
Há que se reconhecer, contudo, que essas estratégias são insuficientes.
O fortalecimento da racionalidade técnica das organizações exige, além da disponibilização do conhecimento, a mudança das regras dos jogos de poder. Se prevalecem as disputas entre interesses particulares, os argumentos técnicos são manipulados. De fato, é o interesse público que pode valorizar a razão técnica na tomada de decisão. E, para que prevaleça o interesse público, é preciso democratizar a gestão, ampliando a participação de trabalhadores e usuários dos serviços de saúde nos processos de decisão.
Enfim, a tradução do conhecimento comporta estratégias de disseminação de resultados de pesquisa, mas deve, para ser efetiva, se associar a transformações que favoreçam o exercício democrático da cidadania no interior das organizações.
Luis Eugenio de Souza
Instituto de Saúde Coletiva,
Universidade Federal da Bahia
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